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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Sandices vitais


Homo sapiens desde que pisou no Planeta sentiu necessidade de encontrar explicações para as coisas, sua bisbilhotice é atávica. Sempre atento a tudo que o cerca, com imensa curiosidade que todo animal parece ter, tenta compreender como as coisas funcionam, como se originaram, qual seu lugar na ordem da natureza, que tipo de utilidade podem ter, se os fenômenos existem independentes uns dos outros ou se estão ligados de alguma maneira. Esse questionamento agudo o levou às descobertas, invenções e procedimentos que tornaram a civilização possível e o nascimento das ciências um imperativo categórico. As perguntas não respondidas conduziram às religiões e ao misticismo em caráter menos ou mais provisório dependendo da capacidade da ciência de encontrar as respostas na medida em que evolui. Mais perguntas respondidas correspondem à luz que implode o obscurantismo das superstições. Contudo, ainda que o conhecimento tenha conduzido a humanidade à senda clara de respostas que iluminam, existe uma pergunta por enquanto irrespondível: o que é a vida? Essa indagação permite conjeturas e especulações filosóficas (Cogito, ergo sum, como cogitou Descartes provavelmente com seus botões), místicas, religiosas, metafísicas e fisiológicas, e é sob essa ótica que faço minhas observações.
Afinal, qual a diferença fundamental entre um ser vivo e um aparentemente desprovido de vida ativa como uma pedra, por exemplo? Será que presença ou ausência de movimento presumem vida e não-vida? A faculdade de replicação é suficiente para definirmos quem está vivo e quem não está? Aliás, será que pedra é um ser vivo que tem o período vital tão dilatado, na ordem de bilhões de anos talvez, que nem sequer percebemos que ela está viva? As respostas, se é que existem, com toda certeza não são encontráveis ali na esquina, ou seja, a partir de simples observação das coisas que nos cercam, o que vemos é apenas constatação que existem seres de uma e de outra natureza, não como e porque eles são o que são. A diferença não reside seguramente nos átomos que os constituem.
Não existe qualquer diferença entre os átomos de carbono de nossos corpos e os da ponta do lápis com o qual escrevemos, ou os do diamante que vemos na joalheria; ou entre o ferro que existe em nossas células e o ferro da panela na qual cozinhamos; ou entre o oxigênio de nosso organismo e o da água que nos banhamos, e assim por diante, em qualquer relação com o material de seres vivos e não vivos. Os blocos constituintes básicos – como tijolos de uma construção - de todos os agregados materiais, tanto vivos como não, pensantes ou não, replicantes ou não, são exatamente os mesmos: átomos. Então não é por aí, não existem átomos vivos e átomos inanimados. O que será então que provoca a diferença? A eureca parece ser as combinações entre os átomos: moléculas de arranjos extremamente mais complexos entre os seres vivos e de complexidade menos acentuada entre os não vivos. Só que essa suposição não se sustenta, falta algo: Um rato vivo e um morto tem as mesmas combinações atômicas e moleculares e, no entanto, não são a mesma coisa, a um deles falta vida. Então, como ficamos? Ficamos a ver a navios, para usar uma frase surrada na falta de outra melhor.
Na verdade, essa falha fundamental da ciência, essa fenda indiscreta na couraça do monstro científico, é o rasgo por onde entram as “explicações” dos fundamentalistas religiosos, vale dizer, dos criacionistas. Funciona mais ou menos assim: “Viu como vocês não conseguem explicar? Então nós o faremos: tudo foi criado por uma força superior que sempre existiu e existirá”. Eles admitem que um ser superior soprou num andróide de barro e este criou vida, assim, a vida seria algo fora do alcance da ciência e da compreensão humana. E ainda afirmam que a mulher foi confeccionada a partir da costela do primeiro homem. Não dá pra ser mais néscia essa conclusão. Empurrar com a barriga quando não se sabe a resposta é uma característica de ignorantes que se conformam com suas ignorâncias. Assim, as superstições continuam prosperando em pleno século vinte e um, o que é lamentável. A estupidez de encontrar uma explicação para a criação de vida humana e deixar os outros animais de lado, já é motivo suficiente para mostrar os becos sem saída que os criacionistas inventam.
Já alguns cientistas (apenas alguns, porque a maioria não quer arriscar sua carreira num assunto tão sem definição) acham que conhecem o processo de criação da vida. Chutam que a vida surgiu a partir de um grau de organização da matéria primordial que existia. Conjeturam que processos fortuitos, mas inevitáveis, teriam criado uma espécie de “sopa primeva” que os cientistas crêem ter constituído os oceanos cerca de 3,7 bilhões de anos atrás. As substâncias orgânicas concentravam-se localmente, talvez em gotículas em suspensão, ou espuma que secava nas margens dos mares. Sob a influência da energia dos raios ultravioleta do sol, combinavam-se em moléculas maiores e mais complexas. Pode-se perguntar por que isso não ocorre hoje. Moléculas assim seriam rapidamente absorvidas, degradadas ou devoradas por bactérias e outros seres vivos. Entes que só apareceram tardiamente no planeta. Naqueles tempos as grandes moléculas orgânicas podiam boiar livremente no caldo cada vez mais denso sem serem molestadas. Num dado momento formou-se por acidente, uma molécula notável, uma molécula que podia replicar-se, estava criada a vida. Sandices, essas suposições são baseadas em muitos “ses”: se isto, se aquilo.
Pois é, acredito que absolutamente ninguém racional neste planetinha azul, pode jactar-se de saber a definição definitiva do que é vida sob o ponto de vista fisiológico. Tampouco se pode afirmar que a ciência já tenha desvendado parte desse mistério, que já tenha algum “caminho andado” na direção de onde se encontra as tábuas da verdade sobre a vida. Os avanços das ciências biológicas, cada vez mais, acrescentam palavreado técnico cheio de firulas, mais com intuito de mostrar serviço, mas que confundem mais do que esclarecem sobre o que se sabe a respeito do que é vida e como ela se originou. O mistério continua

até o próximo capítulo. JAIR, Floripa, 12/02/12.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sandices humanas




Se observarmos a natureza – e não precisa nem ser através de olhar científico – uma coisa que salta aos olhos é a diversidade de formas dos corpos dos animais (óbvio demais) e a relação da forma com a classificação do animal dentro do reino. Assim, mamíferos quase sempre têm quatro membros, insetos sempre têm seis membros, aves sempre têm duas pernas, por exemplo. Claro, não só o número de membros relaciona-se com o animal do qual falamos, outras características anatômicas também são notáveis: mamíferos não têm asas exceto os morcegos; peixes não têm sangue quente exceto os atuns, e por aí vai.
Dentre os mamíferos, aquele que mais nos chama atenção e que mais nos preocupa é o Homo sapiens, por razões mais que naturais. Esse complexo bicho – não mais complexo que o rato ou o ornitorrinco – é classificado segundo Lineu como: Domínio -Eucarionte - Os eucariotas são os organismos vivos unicelulares ou pluricelulares constituídos por células dotadas de núcleo, distinguindo-se dos procariotas, cujas células são desprovidas de um núcleo bem diferenciado; Reino – Animal – Também chamado Animália, o reino animal é composto por seres vivos pluricelulares, heterotróficos, cujas células formam tecidos biológicos, com capacidade de responder ao ambiente que os envolve ou, por outras palavras, pelos animais; Filo – Cordato; Classe – Mamífero; Ordem – primata; Família – Homideo; Gênero – Homo; Espécie – Homo sapiens. Havendo quem ainda classifique o bípede falante como uma subespécie, sapiens sapiens, o que não é muito sapiens por parte de quem assim pensa, pois para existir um duplo sapiens deveria existir um sapiens simples diferente de nós, o que não acontece. Somos os únicos sapiens que se conhece.
Pois bem, aqui está esse primo chegado de primatas arbóreos como o chimpanzé, o orangotango e o gorila, todo refestelado andando sobre duas pernas e tendo os membros superiores livres para praticar suas artes. E, justamente, essas artes as quais pratica é o que o diferenciam de seus parentes peludos, pois se olharmos nossa constituição genética temos menos de meio por cento de diferença com os chimpanzés. Não somos tão especiais assim, tivemos apenas a sorte de sermos providos com mãos hábeis ao invés de pernas anteriores, e isso nos tornou arrogantes e metidos.
Mas, o que realmente nos torna especiais, é pensar que somos especiais, é fácil imaginar que se moscas se acham especiais lá naquele cérebro tão diminuto quanto desconhecido pelo homem, elas são especiais ao modo delas. Quem pode contestar isso? As moscas – ou a lesmas, ou as bactérias – têm tanto direito de nos julgar quanto nós o temos de julgá-las. Será que as formigas não riem de nós – riso de formiga, é claro – achando que somos tronchos, vagos e bestunsófilos sísmicos? Lembrando que bestunsófilo é termo formigal que tem significado claro para elas, mas é completamente intraduzível para qualquer idioma humano. Já, sísmico, é isso que entendemos mesmo: causador de abalos. É só lembramos que quando pisamos num formigueiro deve haver abalo bem significativo na escala Endopterigota delas. Inferindo ainda que essa escala usada pelas formigas pode medir magnitudes de 01 a 100.000 endos, sendo o menor índice, 01 o abalo causado por uma pisada de besouro e 100.000 a pisada de um elefante, ficando a pisada do homem entre os cinco e dez mil endos.
Então vaga o bicho homem, arrogante, pelos espaços disponíveis do Planeta, “se achando”. Julgando-se o ápice da criação, criando em sua mente privilegiada até um Ente Supremo que a tudo criou e tudo controla e que, na sua sabedoria primordial, trouxe á luz um ser a Sua imagem e semelhança. Da para acreditar em tamanha presunção?
Pois é, esse ser “especial” criado a semelhança do Criador, pensa que é melhor que a formiga a qual esmaga sem piedade com seus pés maldosos. Esse ser que é um animal como qualquer outro e não é especial no sentido de ter privilégios. A marcha da natureza, - isso os cientistas já provaram – faz com que de tempos em tempos sejam eliminados da face da Terra, seres incompetentes ou que não se adequaram com perfeição a novos ambientes ou novos climas. Comprovadamente a natureza já se livrou sete vezes dos menos adaptados. Se o Homo sapiens for realmente sapiens e tiver um cagagésimo de humildade lhe será fácil verificar que está em rota de colisão direta com sua própria extinção. Se a arrogância do homem não lhe tolher a capacidade de julgamento e não turvar sua visão, ele será capaz de enxergar um futuro próximo do Planeta, onde ainda existirão milhares de espécies animais em pleno gozo de suas existências profícuas, sem qualquer ser humano até onde a vista puder alcançar. Poderá ver algo como o paraíso na Terra, onde animais e vegetais interagem e uns servem de alimento aos outros em troca de insumos que os comensais dejetam para os comidos.
Se a natureza fosse uma grande e complexa orquestra, poderíamos atribuir a cada membro, vegetal, mineral ou animal, uma função dentro dessa orquestra, menos para o homem. O homem seria a nota dissonante dentro da harmonia dessa imensa organização. Agora podemos perguntar: Porque esse animal racional e falante não se enquadra? Por que é o único ser que “rema contra a maré” por assim dizer? Parece que esse animal bípede não se acostumou devidamente com seu cérebro grande e criativo de concepção ainda recente. É razoável supor que depois que o cérebro humano se desenvolveu e deu ao seu portador esse imenso poder, essa capacidade tão grande quanto desconhecida de criar e deduzir coisas, o homem ainda não tenha “se acostumado” a usá-lo devidamente, não saiba controlá-lo para obter dele eficiência e trabalho produtivo de longo prazo. Algo assim como colocar um carro de fórmula um na mão de um neófito que mal sabe dirigir. É de se esperar que nada de bom saia dessa combinação: amador & máquina potente. Daí, podemos inferir que se não nos destruirmos nos próximos milênios e consigamos sobreviver apesar de nossa bisonha manipulação do cérebro “fórmula um” que temos, teremos, enfim, lucidez para perceber nossos erros e nos redimirmos. Só então, como o astronauta David do filme “2001 Uma odisséia no espaço”, renasceremos (como espécie e não como indivíduos) em nós mesmos e viveremos em paz e harmonia com a natureza. JAIR, Natal, 29/03/12.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Javalis


Homo sapiens, durante a maior parte de sua história de caçador-coletor, cujo comportamento o levou a colonizar quase todos os continentes do Planeta, não se deu conta que a variada flora e fauna das diversas regiões faziam parte da natureza marcada pela distinção necessária à adaptação aos ambientes diferentes uns dos outros. O homem percebia que havia diferentes faunas e floras, mas não se preocupava e perguntar-se porque assim era. Em vista dessa atitude não foram poucas as “transferências” de espécies de uma região a outra, medidas que atendiam interesses das tribos e aldeias. Por exemplo, os primeiros a domesticar cavalos foram povos asiáticos, mas europeus adotaram os equinos e os levaram para as estepes do norte de forma que esses acabaram se “aclimatando” por lá e tornaram-se “nativos”. Existem muitos exemplos de plantas e animais transplantados para ambientes estranhos que, em alguns casos, ajudaram na conquista de regiões e construção da civilização, mas nem sempre as transferências foram benéficas.
A partir do século quinze quando as grandes navegações permitiram que exploradores, principalmente europeus, “descobrissem” novas terras e continentes, foi que o quadro de transferência de espécies se tornou mais intenso e, de certa forma, mais nocivo. A Austrália é um exemplo clássico dessa interferência perniciosa dos homens. Durante milhões de anos a “ilha” australiana ficou bastante isolada do resto dos continentes de forma a permitir a evolução de seus próprios animais e plantas. Naquele país, grande parte da flora é única, eucaliptos, por exemplo, são uma espécie de cartão postal da terra, eles estão divididos em centenas de espécies e não são encontrados em outra parte do mundo em estado natural. Todos os mamíferos australianos são marsupiais, bichos que carregam os filhos numa bolsa chamada marsúpio, qualquer mamífero que por lá viva e não tenha marsúpio é excêntrico, veio de outra parte do Planeta. Pois então, durante milhões de anos a flora e fauna únicas se desenvolveram sem interferência humana e a coisa ia muito bem, até que o tal de Homo sapiens (me questiono, por que sapiens?) por lá aportou há duzentos anos e começou introduzir bichos e plantas estranhos. Hoje, sapos-cururus, raposas, porcos, gatos, ratos, camelos, coelhos e algumas plantas alienígenas estão causando o maior estrago ecológico que se tem notícia. Os gados vacum, ovino e equino, não causam maiores problemas porque não saíram do controle humano, não se tornaram selvagens. Os dingos foram introduzidos pelos povos da melanésia há trinta mil anos e também são danosos à fauna nativa até hoje.
No mundo todo há inúmeros exemplos da introdução, principalmente de fauna estranha, que causou desequilíbrio da natureza tal como havia evoluído até então. No Brasil não foi diferente. O javali foi introduzido em criações na Argentina e Uruguai, de onde ingressou no Rio Grande do Sul e progressivamente avança rumo ao norte. A espécie não encontra predadores naturais, uma vez que é exótica, além de cruzar com o porco doméstico, dando origem ao chamado javaporco - neologismo criado para definir esse híbrido, tão ou mais nocivo que o javali. Sua caça e abate são permitidos e até incentivados por órgãos de controle ambiental, como o IBAMA, que em contrapartida procura incentivar a criação da espécie nativa, chamada de queixada, contudo, essa espécie ainda não se encontra em fase de criação comercial. A criação controlada do javali, e de seus híbridos, entretanto, ocorre em diversas fazendas, sobretudo destinada à exportação da carne, que possui alta cotação mercadológica. A carne do javali tem baixo teor de gordura, além de cada animal produzir mais que o porco comum. Segundo um dos últimos estudos a respeito efetuado em 2008, a população de javalis no Brasil estaria em torno de 50.000, distribuídos em menos de 400 criatórios. Em estado selvagem a coisa parece ser muito pior. Estimativas feitas a partir de relatos de caçadores dão conta que em todo o Sul do Brasil, parte do centro-oeste, São Paulo e sul de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia existem grandes concentrações em vários grupos de Javalis de 30 a 40 indivíduos.
O ônus da disseminação descontrolada desse animal vem por conta de seus hábitos alimentares que incluem legumes, tubérculos, cereais, gramíneas e verduras, lembrando que cana de açúcar é uma gramínea e altamente apreciada pelo suíno. As propriedades que cultivam batatas, trigo, feijão, milho e mandioca se veem ameaçadas quando esses animais resolvem atacar a plantações. Como esses bichos terríveis são nômades e de hábitos alimentares noturnos, é difícil prever onde eles estarão em certa época e onde atacarão os cultivares. Mesmo com caça liberada em certas regiões, tem que se levar em conta que os animais são extremamente agressivos, grandes, fortes, rápidos e tem presas poderosas, não se furtando de atacar cães de caça e os próprios caçadores, principalmente quando as fêmeas estão com filhotes. Nem as onças pintadas de nossa fauna são tão perigosas como esses porcos selvagens.
Lembro que na minha cidade natal havia vastas áreas rurais invadidas por esses animais ferozes que faziam festas nas plantações. A medida paliativa para tal nocividade era liberar a caça controlada. Os caçadores faziam-se acompanhar por guardas florestais como ficais e, na companhia de cães adentravam as matas onde quase sempre matavam enormes machos que chegavam a pesar até quinhentos quilos de pura carne. Não que a caça tenha resolvido o problema, mesmo porque, depois de algum tempo os bichos mal humorados eram encontrados em regiões distantes onde antes não os havia. Os javalis continuam a infestar a região sul do país, continuam causando prejuízos aos agricultores e, pelo jeito, enquanto houver áreas onde eles possam procriar, continuarão se reproduzindo e ameaçando conquistar terreno cada vez mais ao norte, até onde, não se pode cogitar. Graças à incúria e falta de sintonia do Homo sapiens com a natureza, grande parte das áreas ocupadas por ele estão “contaminadas” com bichos alienígenas causando transtornos a ecologia. O homem é um rei Midas ao contrário, tudo que toca vira eca. JAIR, Floripa, 05/02/11.
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