No atávico confronto entre as idéias da ciência e os dogmas da religião, com frequência, surge a acusação que os cientistas tiraram Deus das pessoas e não ofereceram nada em troca. As indagações mais racionais que os crentes em uma entidade superior fazem são: Se tudo pode ser explicado pela razão; se tudo pode ser compreendido por mecanismos lógicos de causa e efeito, onde cabem as emoções como nossa capacidade de amar, sentir dor, desespero e solidariedade? A ciência pode fornecer meios que combatam nossas dúvidas existenciais, como a religião o faz? Se não há vida depois da morte, o que a ciência nos oferece? Então, a alma não existindo, o que nos diferencia dos outros animais? Somos apenas um acidente de percurso de uma evolução cega não programada?
Realmente, se encaradas assim sem maiores reflexões, essas perguntas parecem perturbadoras. Se adorarmos a ciência e a colocarmos no altar, ela estará substituindo Deus ou qualquer entidade que represente algo místico que preenche as lacunas onde a ciência não alcança, ou não alcançou ainda. Essa perturbação da ordem, (vamos chamá-la assim) tem dois aspectos relevantes que devemos considerar: Grande maioria, mas grande maioria mesmo, dos homens de ciência acredita numa entidade superior, apenas não mistura suas convicções religiosas com suas pesquisas que adentram os mecanismos que a natureza usa para ser o que é; além disso, nosso cérebro é constituído de dois hemisférios que tem funções distintas, o lado esquerdo desenvolve raciocínio lógico, faz contas e deduções a partir de dados; o lado direito é lírico, emocional e criativo, não está preocupado com resultado da soma dois mais dois, mas gosta de poesia e arte, além de acreditar em coisas místicas.
Assim fica fácil entender que sempre existiu e sempre existirá a dualidade entre querer compreender o que se passa e atribuir o obscuro, o misterioso a algum ente de poderes superiores e não questionáveis. Alguns poucos privilegiados conseguem ser técnicos excelentes e fazer boa poesia, ter sensibilidade para música (meu amigo RRB sabe de quem estou falando) e usar o lado do direito do cérebro tanto quando o esquerdo. Mas nós, bilhões de simples mortais, não temos tal habilidade, portanto, estamos sujeitos a “embolar o meio de campo” e, onde a lógica não nos atender, passamos a bola ao inexplicável da silva a quem damos nome de Deus, ás vezes.
Tenhamos em mente que a ciência é um método de adquirir conhecimento, de descobrir regras e diretivas da natureza, não é um substituto de Deus, não exige veneração nem fé, o que não se coaduna com as teorias e fórmulas não deixa de ser cada vez mais estudado e analisado. Já a religião, desde tempos imemoriais, explora o ignoto e o medo do escuro dos homens, não tenta explicar o inexplicável, apenas gera conforto onde há angústia e traz esperanças aos desesperados. A ciência explica o passível de ser explicado e não se mete na religião, segue paralela às crenças e, quando as confronta, é apenas para aclarar alguma coisa bastante simples, exemplo: o mundo não foi feito em seis dias, não há base que sustente essa proposição.
Não há necessidade de um propósito divino para justificar a busca que ciência faz pelo conhecimento. A ciência sempre será instigante e maravilhosa, e tem a humildade de se saber limitada, incompleta, sempre buscando algo mais, mas nunca supondo que alcançou o zênite. A ciência é mestre em construir modelos que se aplicam à natureza e aumentam o conhecimento que temos dela. A ciência é excepcional em argumentar, fazer perguntas depois tentar respondê-las, nunca se furta a tentar, experimentar e divulgar o que descobriu. A religião faz parte de outro departamento da mesma empresa, não deveria confrontar a ciência, pois estaria “jogando contra” e, desse modo, diminuindo a eficiência da empresa humanidade.
E a alma? E a vida eterna? E as angústias e medos? Ora, esse é o departamento das religiões, e a ciência nada tem a dizer, por enquanto. Como diz aquela música: Cada um no seu quadrado. JAIR, Floripa, 27/08/10.
4 comentários:
Caro amigo Jair: acho que você reformulou este texto, ou escreveu algo parecido antes. De qualquer forma, o assunto permanece no foco.
Como diz o velho deitado: cada macaco no seu galho! Isto vale também para os macacos sem rabo!
As pessoas de fé deveriam respeitar o papel da fé na mente humana e não tentar usa-la para tentar explicar coisas que a ciência ainda está longe de esclarecer.
Os cientistas devem se ater aos fatos que estão ao seu alcance e parar com os "dogmas científicos", tecendo teorias desprovidas de evidências, com base apenas na possibilidade de serem verdadeiras.
Como especular sobre a criação do universo: afinal, o que é universo? Será apenas aquela porção que nossos telescópios alcançam?
Parece mais coisa religiosa, acreditar que o universo é um "show de Truman" e existe apenas para que o percebamos. Assim, fora do nosso alcance, seria desnecessário algum cenário, pois ficaria fora do foco das nossas cameras!
E, se existe muito mais fora do alcance de nossos sentidos, por que motivo acreditar que não estamos no centro de uma pequena singularidade, uma espécie de "bôlha", flutuando num meio onde as regras físicas predominantes são outras?
Volto a dizer: essas pessoas se assemelham à uma bactéria, cujo "universo" é a gota d'água que foi pingada sobre a lâmina de um miscroscópio, ponderando sobre a natureza de quem a está observando na ocular do instrumento!
Para mim, não somos nem nitrato do extrato do cocô do cavalo do bandido!
Homens de ciência, tenham noção da nossa pequenez e procurem algo que possamos alcançar!
Já os crentes, dentro de sua fé, podem acreditar em qualquer coisa que sua mente aceite, já que a mente não tem limites!
Abraços!
Oi Jair, como está?
Parabéns pelo texto. De minha parte deixo aqui uma pergunta: A ciência já conseguiu 'fabricar' algo com vida, por menor que seja? Uma pequenina flor, por exemplo. Logo, respeitemos os mistérios da vida, não é mesmo?
Amigo, desde novembro estou meio 'desligada', por problemas de saúde. Mas, sei que nosso blog está em boas mãos, com certeza!
Um grande abraço!
Bom trabalho, como sempre criacionismo e evolucionismo em questão, não acredito muito nesta coisa de que os espaços devem ser ocupados separadamente, ciencia e fé caminham juntas por métodos diferentes, se opoem mas precisam uma da outra para se explicarem. O entendimento de cada uma, não é eficente ou eficáz sem os parâmetros estabelecidos por ambas. A interação, o debate, os mentidos e desmentidos são caminhos para um fim maior. Deus? Razão? Fé? Ciência?
"Penso, logo(s) existo."
Muito bom texto, válido pelas questões levantadas e tão discutidas.Parabéns.
Mas, afinal, gostaria de saber quem inventou que religião e ciência não pode ou não deve caminhar juntas. É um triste invento.
Postar um comentário