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sábado, 12 de junho de 2010

Capivaras no asfalto


Imagem copiada da internet.



Texto publicado no blog: www.jairclopes.blogspot.com em fevereiro de 2009.

A respeito de comentários em meu texto sobre o jacaré, o que surpreende é a obstinação que tem a vida em continuar se mantendo a despeito das múltiplas condições adversas as quais, dentro do que supõe a ciência, tornam impossível sua existência. O homem, na sua arrogância e egoísmo, deteriora ou ocupa todos os ambientes possíveis de modo a torná-los extremamente hostis ou inabitáveis para os demais seres, animais ou vegetais. Assim, os seres que não se extinguem ou não se mudam têm que se adaptar aos novos ambientes criados por esse concorrente irracional e covarde.

São Paulo, a maior metrópole do país, é exemplo claro dessa lambança humana e da versatilidade que as demais espécies são obrigadas a ter para não sumirem da face da terra. O Tietê é considerado um dos mais poluídos rios do planeta e, no entanto, além de jacarés que, vez ou outra lá são encontrados, também é habitado por capivaras e sou testemunha desse fato. Não longe do aeroporto de Guarulhos existe um pequeno riacho, chamado rio Jequié, que é tributário do Tietê e, como tal, é tão poluído como ele.

Pois bem, sobem pela calha desse riacho CAPIVARAS, (Hydrochoerus hydrochoeris) famílias numerosas delas, vindas, comprovadamente, do Parque Ecológico do Tietê, às suas margens ali perto. Como próximo ao aeroporto existem pequenos lagos remanescentes da época em que ali eram numerosas as olarias, esses lagos nada mais são do que buracos cheios d'água deixados por essas fábricas de tijolos. As capivaras oriundas do parque adotam esses laguinhos como lares, ficam pastando nas margens e são visíveis para quem passa para o Aeroporto ou vem de lá.

Como não são perturbadas e não possuem predadores naturais na área, multiplicam-se de maneira assombrosa, a ponto da INFRAERO, através de seu Departamento de Controle Animal, ter que, periodicamente, "despovoar" parcialmente os locais, porque os animais oferecem perigo aos pousos e decolagens de aeronaves. Antes que algum defensor da natureza mais exaltado vá com quatro pedras para cima da INFRAERO explico: despovoar significa capturar e transferir os roedores para lugares próprios onde eles fiquem longe dos humanos e seus afazeres. Numa ocasião, de madrugada como sempre fazíamos, estávamos indo do hotel para o aeroporto num ônibus pequeno quando, subitamente, sofremos um tranco, como se tivéssemos atropelado alguém ou alguma coisa; o motorista parou de imediato assustado: - Atropelei um cachorro! Descemos para verificar e ficamos surpresos. Ele havia atropelado uma capivara que, depois de pesada, constatou-se ter sessenta e poucos quilos, uma capivara bem grande!

Lembrando de nossa infância lá no interior do Paraná, no meio dos "mato" como se dizia, onde nunca vimos uma capivara; onde apenas se ouvia falar desse bicho que era selvagem e extremamente raro, que, na nossa concepção só existia no Mato Grosso, fica ainda mais estranho encontrá-las em plena maior metrópole do país. Significa que esses animais conseguiram resolver satisfatoriamente a equação adaptar-se versus extinguir-se; conseguiram, com um tão desconhecido quanto inusitado jogo de cintura, adaptar seu modus vivendi para um ambiente tão adverso que até do seu criador, o Homo sapiens, ele cobra um preço elevadíssimo pela sobrevivência. Capivaras no asfalto são uma realidade, se não houver uma interferência cruel do homem, esses animais vão continuar por muito tempo a tocar suas vidas de zoofavelados urbanos ao nosso lado. Quem viver verá! JAIR, Floripa, 28/02/09.

Um comentário:

Brandina disse...

Ótimo texto, pouca gente se dá conta que os bichos ficam encurralados entre se adaptar às cidades ou morrer. Esse exemplos das capivaras ilustra bem o dilema dos animais.

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