Colcha, caminho de mesa, centros de mesa, porta-guardanapo e tampo para vidro. |
Por que artesanato* neste blog? Porque queremos resgatar um pouco da arte e da cultura deixadas para nós por nossos antepassados. Porque muito do que existia está se perdendo, se transformando e/ou se industrializando. Porque o artesanato, de um modo geral, é a mais pura arte popular. Porque, como terapia, ainda não se inventou nada melhor. Porque precisamos sem demora voltar às nossas raízes antes que nosso mundo não tenha mais volta. Mais? Porque tudo o que aprendemos fazer, seja manual ou intelectual, é um patrimônio que ninguém nos tira. Se um dia nossos bens materiais se forem, poderemos recomeçar através de alguma arte aprendida.
Que tal começarmos por um artesanato bem popular e conhecido, o crochê?
A palavra crochê vem do vocábulo francês crochet. Em algumas regiões do Brasil pronuncia-se com a vogal aberta (croché). Achamos em uma antiga enciclopédia uma definição e um pequeno histórico que julgamos bem adequados:
"Crochê, s. m. - Fr. crochet. Trabalho de renda ou malha feito em algodão, seda ou lã, e executado com uma só agulha de madeira, aço, ou marfim, terminada por uma barbela ou gancho.
ENCICL. O crochê está hoje muito vulgarizado e grande parte das moças ou donas de casa, de qualquer condição social, o pratica, quer por simples distração quer como fonte de renda. Por meio de hábeis e engenhosas combinações fazem-se trabalhos admiráveis. Nos lares, o crochê está representado nos panos que cobrem as mesas, nas cobertas e nos almofadões dos leitos, nos entremeios das toalhas, nas cortinas das janelas etc. Antes do extraordinário desenvolvimento das máquinas, o crochê era uma das maiores indústrias caseiras"**
Agora complemento: não somente o crochê, mas todo e qualquer artesanato, em alguma época, serviu de base financeira para muitas famílias. Ainda hoje é a complementação do salário de muitos, quando não a única fonte de renda. E, se antes era praticado pelas "moças ou donas de casa", hoje há muito barbudo fazendo dele seu meio de vida.
O crochê-arte está sendo utilizado por grifes famosas do mundo inteiro. Ontem, ao passar por um shopping, vimos alguns vestidos lindíssimos (só não achamos lindo o preço com quatro dígitos, mas é justo, pelo trabalho) confeccionados por uma conhecida estilista de Brasília.
Dos históricos que vimos sobre o crochê, um nos chamou a atenção pela abrangência da pesquisa feita e pela colocação correta das fontes vistas e utilizadas. Há também fotos de belos trabalhos. É de autoria da tradutora Cristine Martin, do blog Terracota Blog. Veja em "Leia mais" logo aqui embaixo.
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* "Artesanato, s. m. - Artesão + ato. Técnica e tirocínio do artesão; consciência profissional do artesão; obra do artesão." Enciclopédia Brasileira mérito, Volume 2, Editora Mérito S. A., São Paulo, 1967.
** Op. cit., Volume 6.
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Dez 15, 2009
"Pouco se sabe sobre as origens do crochê. Há algumas teorias de que os primeiros trabalhos eram feitos com os dedos, em vez de usando agulhas. As três teorias principais dizem que a técnica teria se originado na Arábia e se espalhado para o Tibete e mais tarde para a Espanha, na América do Sul, onde uma tribo primitiva teria usado adornos de crochê em rituais de passagem para a vida adulta, ou na China, onde foram encontradas bonecas feitas de crochê.
As primeiras evidências do uso extensivo da técnica surgiram na Europa, durante o século 19. A primeira referência escrita apareceu no livro “The Memoirs of a Highland Lady” de Elizabeth Grant (1812), e as primeiras receitas de pontos foram publicadas em uma revista holandesa em 1824.
A partir dessa época o crochê foi usado como uma forma mais barata de fabricação de renda. Durante a Grande Fome na Irlanda, as freiras ursulinas ensinavam mulheres e crianças a tecer rendas de crochê, que eram vendidas em toda a Europa para ajudar a população faminta.
Contudo, o estigma de imitação de um símbolo de status em vez de uma técnica artesanal com valor próprio prejudicou a técnica. Quem podia comprar renda feita com as técnicas mais antigas e caras desdenhava o crochê como sendo uma cópia barata.
A Rainha Vitória ajudou a desfazer essa impressão, comprando renda feita de crochê e aprendendo a técnica ela mesma. Durante a era Eduardiana (as duas primeiras décadas do século 20) as rendas de crochê eram mais elaboradas em textura e dificuldade, com rendas de cores pálidas e bolsas elaboradas, com muitos bordados de pedrarias.
Somente após a II Guerra Mundial o interesse pelo crochê retornou, como parte do movimento baby boom, que estimulava os valores domésticos e as técnicas artesanais feitas em casa. Mesmo assim, a técnica era vista como “coisa de dona de casa”.
Com o movimento hippie da década de 60, a nova geração popularizou os crochês coloridos e os granny squares, as mantas feitas com quadrados de crochê. A popularidade declinou um pouco nas décadas recentes, apesar de haver uma legião de seguidores (principalmente seguidoras) fiéis.
Felizmente, nos últimos anos, o crochê e outras artes manuais têm encontrado seu lugar ao sol. Hoje é comum, além das crocheteiras de costume, vermos adolescentes e homens fazendo lindos trabalhos em crochê. Existem inúmeros blogs dedicados ao crochê e tricô, e os trabalhos manuais estão começando a receber o devido valor como técnica artesanal e de arte.
Os trabalhos atuais são mais criativos e modernos, com destaque para o freestyle crochet, que é uma “técnica” de crochê livre, unindo diversas linhas, cores e pontos básicos em uma mesma peça sem receita ou modelo. Esta forma de crochê pode ser usada para criar obras de arte e decoração ou bolsas, coletes e outros acessórios. Criatividade a mil!
Outra novidade que tem sido bem procurada são os amigurumi (em japonês, “boneco tricotado recheado”), ou bonequinhos feitos com ponto baixo em espiral, formando bichinhos e personagens. A técnica japonesa dos amigurumi foi além e hoje os artesãos criam objetos e comidinhas feitos de crochê. Já imaginou um sushi de crochê? Alguém já fez!"
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Para saber mais:
- artigo sobre crochê na Wikipédia (em português e inglês)
- coral de crochê freestyle no Superzíper
- amigurumi na Wikipédia
- alguns sushis de crochê, aqui, aqui, aqui e aqui
- blog com vários exemplos de peças lindas em freestyle" In: Terracota Blog
- coral de crochê freestyle no Superzíper
- amigurumi na Wikipédia
- alguns sushis de crochê, aqui, aqui, aqui e aqui
- blog com vários exemplos de peças lindas em freestyle" In: Terracota Blog
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2 comentários:
Realmente, fiquei impressionado com a história do croché e todas suas possibilidades, econômicas, artísticas e por que não dizer terapêuticas. Quisera eu ter habilidade manual para tratar fios e agulhas com a técnica de criar obras de crochê. Abraços Luiza,e note que escrevi "croché" e "chochê" em homenagem a minha mãe (que excelente na arte) que dizia croché e você que se referiu a crochê.
Luisa, me lembro de um tempo em que tudo lá em casa tinha crochê e trico, eu não entendia nada, ainda não entendo, mas riamos muito, eu e meus irmãos, vendo minha mãe e outras mulheres trocando receitas, era um tal de laçada por cima,laçada por baixo, aperta aqui, segura ali, que não acabava mais nunca. De certa forma, aprendi a fazer alguns nós e amarras, que me foram muito uteis em minha vida rural.
Aquele abraço!
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