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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Energia


Ilustração da internet.
Texto publicado no blog: www.jairclopes.blogspot.com em agosto de 2010.

Qual é a marca da civilização? O que define que os povos, as nações, os países, tornaram-se civilizados? Essas questões singelas, de respostas também bastante simples, encerram o que hoje é o maior desafio da humanidade: continuar “civilizada”. Enquanto vagava como caçador-coletor, o homem não era um grande consumidor das energias naturais a seu dispor, abrigava-se em cavernas, choupanas improvisadas, comia carne crua ou assada quando houvesse meios para isso e, na maior parte das vezes, alimentava-se de frutos maduros onde os encontrasse e vestia-se de peles de animais ou vivia nu. Em matéria de consumo de energia o ser humano era minimalista, quase nada exigia do ambiente que o cercava e não desfrutava de uma organização sofisticada que lhe impusesse encontrar meios de obter energia para sua vida simples. Desde que o Homo sapiens agregou-se em comunidades semi fixas onde passou a praticar agricultura e domesticação de animais para sua sobrevivência e conforto, começou o que podemos chamar do ciclo da energia. Essa é a marca da civilização.

Já nos aglomerados familiares, tribais e de clãs iniciais, o homem se viu frente à necessidade de obter energia para seu modus vivendi que, agora, postulava novos níveis de consumo, tratava-se de comunidades com algum nível de sofisticação. O fogo de lenha, inicialmente, atendia os reclamos de cozimento da caça e pesca e a necessidade aquecimento de seus abrigos. Contudo, até pela quantidade de pessoas que conviviam, apareciam novas demandas e, em consequência, artesanato, confecção de utensílios cerâmicos e, mais tarde, fabrico de armas metálicas exigiam novas fontes de calor. O carvão, pela facilidade do uso in natura e pela abundância, foi a escolha compulsória. O carvão foi e ainda é, a fonte de energia não renovável mais utilizada ao longo da história da civilização.

Com o crescimento da população mundial, com a complexidade das novas conquistas tecnológicas, com a demanda cada vez maior por fontes energéticas, o petróleo entrou na dança. No início, o petróleo, depois do refino para se obter um tipo de querosene, era usado para iluminação pública e doméstica, e aquecimento dos lares em aparelhos rudimentares. Com o aparecimento do automóvel, não é necessário dizer, o petróleo tornou-se uma espécie de deus da vida civilizada. Não é estultice afirmar que quase toda estrutura de nossa sociedade dita civilizada está calcada no consumo do petróleo. Ainda que as fontes hidráulicas, as quais nos fornecem energia elétrica e até outras fontes menos expressivas como as usinas atômicas, sejam, também, importantes para o suporte da demanda do Homo sapiens, o petróleo é a prima donna do elenco energético do Planeta.

Pois é, depois de muito tempo de consumo desenfreado, depois que o petróleo se tornou, muito além de sua utilização normal como fonte de energia, um fator político que desencadeia guerras, que constrói e destrói economias, o homem, finalmente se dá conta que ele é não renovável, que ele um dia vai acabar, que usar como se usa o petróleo é uma viagem sem volta. E agora José? Vamos continuar consumindo cegamente esse produto para manter nossos níveis de civilização e deixar a conta para nossos descendentes? Ou vamos repensar o que chamamos de civilização, e retornar a um nível racional de consumo energético de modo a que o próprio Planeta se encarregue de repor o que consumimos? Veja bem, não se trata apenas de descobrir e usar outras fontes, as chamadas fontes de energia alternativa como solar, biomassa, eólica, geotérmica etc. Não é apenas isso. Trata-se de repensar a civilização, trata-se de olhar ao redor e perguntar: Será que para ser feliz eu preciso de tudo isso? Será que apenas um carro por família não é suficiente? Por que devo ter sempre mais? A felicidade é, realmente, ter ao invés de ser? Vale a pena queimar todas as fontes de energia do Planeta para, supostamente, atingir um nível de “civilização” discutível e que não pode ser mantido ad infinitum? Viemos aqui (ao Planeta) apenas para destruí-lo? Somos agentes finais de um ciclo de extinções que, de tempos em tempos, passa nosso Planeta?

Então, a energia que consumimos para manter a civilização é aquela que o Planeta “fabrica” pela transformação do calor que recebe do sol em energia biológica, a qual, depois de outras mudanças químicas surge como lenha, petróleo, carvão etc. A energia geotérmica, embora não relacionada diretamente com a luz solar atual, é um resquício da formação do Planeta e, de certa forma, pela quantidade existente, é virtualmente inesgotável. Mesmo que o homem descubra meios seguros e eficazes de transformá-la em energia aproveitável, deverá durar enquanto o Planeta existir. Portanto, não está em questão esta fonte, ela existe e, certamente, será aproveitada num futuro próximo. A questão é outra, mantidos os níveis atuais de aumento de consumo, não haverá tempo para desenvolver nem encontrar fontes energéticas suficientes antes do colapso da civilização. Estamos numa corrida amoque rumo à extinção exclusivamente por nossa incúria. Não temos consciência que a energia que consumimos e que é a marca de nossa civilização será a marca de nossa extinção também. A única maneira de escaparmos dessa armadilha que armamos será baixar nosso consumo para níveis que tornem viável a reposição do que consumimos. Essa é uma decisão dificílima que traz a extinção da civilização como contrapartida, não há alternativa. Se o homem é o ser inteligente que suspeitamos que seja, está na hora de encarar o desafio. Gaia agradece. JAIR, Floripa, 22/08/10.

2 comentários:

Leonel disse...

Jair, eu penso que a única resposta possível seria a fusão nuclear. Com ela, teriamos uma fonte limpa de energia quase que infinita. Por isto, acho que todos os recursos possíveis devem ser investidos nesse sentido.
Uma coisa interessante é que já se pesquisou diversas fontes alternativas de propulsão para veículos terrestres, mas até agora, nenhuma que fosse aplicável em aviões!
A melhor proposta até agora foi a sua turbina que expelia ozônio...
mas assim mesmo, usava combustível tradicional.

Luísa Nogueira disse...

Jair, é assim, alertando, que podemos contribuir para, pelo menos, prolongar esse fim já esperado de nosso espaço chamado 'terra'. A não ser que haja uma conscientização em massa! Mas, como você diz, haverá tempo para retrocedermos?
Infelizmente é isso aí, a pergunta é mesmo esta: "Viemos aqui (ao Planeta) apenas para destruí-lo?" E fica a no ar a indagação: "A felicidade é, realmente, ter ou invés de ser?"

Um texto que nos remete ao início da chamada 'civilização', faz questionamentos e nos alerta de um modo geral, tentando nos fazer refletir sobre os caminhos que temos diante de nós. Parabéns, amigo!

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