Em nosso futebol sempre há jogadores criativos, por isto conhecidos por todos. A historinha que conto hoje aqui é dos anos 80. Ela mostra como nosso futebol é incrivelmente um 'abridor de portas' e sorrisos. Escrevi a crônica para o blog Multivias - A Natureza em Fotos e Variedades em março de 2009, com o título Recordações de um país distante II, reeditando-a quarta-feira, após o jogo do Brasil, no mesmo blog. Vamos conferir?
Tendo trabalhado no Instituto Francês de Teerã, morei no Irã no final da década de 70 e
início dos anos 80. Isto quer dizer que estava lá exatamente durante o iniciar e
o fervilhar da revolução iraniana. Vi a saída, ou melhor, a fuga do Xá Reza
Pahlevi e a chegada triunfal do Ayatollah Khomeini. Fui a única brasileira
residente em Teerã durante essa guerra civil. Não sei se a única residente em todo o Irã, mas em sua capital, Teerã, sim.
Não, não quero falar nem me lembrar de guerras, de
mortes, de tristezas. Hoje quero me recordar de coisas boas, que afastam guerras
e trazem Paz.
Quando cheguei ao Irã não sabia falar uma só
palavra em farsi, a língua oficial daquele país. A ‘linguagem
universal’ – a mímica – me socorria nas situações mais difíceis. Felizmente
muitas pessoas sabiam falar inglês ou francês. O Irã possui várias línguas,
sendo o farsi o idioma oficial. Não disse dialetos,
disse línguas. No Brasil, por exemplo, há uma unificação em relação ao idioma. A
língua portuguesa, com seus vários dialetos, (sim, dialetos!) é única em todo
nosso território.
Pili
Apesar da dificuldade de comunicação inicial, a
‘brasili’ – a ‘brasileira’ – era tratada como uma princesa saída do reino de
“Pili”. Um reino de um país ensolarado chamado Brasil. Aonde chegava só ouvia
“Pili”. Era Pili prá cá, Pili prá lá. No início sorria de volta, sem
saber bem o que queriam dizer com “Pili”. Às vezes repetia sorrindo: “Pili,
Pili!” Mas logo descobri: “Pili” era o amado e idolatrado Pelé. Sabia que
nosso rei era conhecido internacionalmente, mas nunca imaginei que fosse tão
popular entre os povos da Ásia, principalmente os do Oriente Médio. Alguns
sorridentes iranianos acompanhavam o “Pili” com algumas sílabas impronunciáveis
que descobri depois ser “Garrincha”. Era nosso futebol levando nas bolas
chutadas com maestria o nome de nosso país. Um incrível futebol diplomático. Um
futebol que abria portas e ultrapassava fronteiras, unificando esse mundão e
retirando ‘as torres de babel’ por onde o brilho das bolas passava. Sim, um
futebol diplomático, nota mil, como eram as boladas de Pelé.
Que nasçam e vivam mais Garrinchas e Pelés, dando
um exemplo de Paz através do esporte. Através do pipocar e do estourar... de
bolas.
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4 comentários:
Luiza,
Muito interessante essa tua história, valeu!
Acho que os esportes de um modo geral poderiam substituir as guerras. Viveríamos num mundo de paz. Abraços, JAIR.
Que experiência interessante, Luiza!
Viver naquele país das mil e uma noites, a Pérsia das histórias e lendas.
Curioso como nossos jogadores, sem saber, eram divulgadores do Brasil, e como sua fama correu mundo!
Felizmente, o esporte também faz parte da cultura mundial.
Como falou o Jair, o substituto ideal para a guerras!
Abraços!
Se isso acontecesse, Jair - a substituição de guerras pelo esporte, acho que Deus ficaria realizado e felicíssimo com suas criaturas! Vamos torcer para que isso esteja cada vez mais próximo?
Um bom dia, amigo!
Sim, Leonel, a Pérsia das mil e uma noites e que, atualmente, está um tanto sem rumo e pra completar, perseguida pelo Tio San. Apesar de todo sofrimento, o povo daquele país é um povo bravo, valente e muito acolhedor. Fiquei por lá apenas dois anos e meio. Apesar da Embaixada do Brasil me pedir para sair logo no início da guerra civil, consegui ficar um pouco mais. Só saí quando a situação ficou muito perigosa, uma bomba estourou a poucos quarteirões do Instituto Francês e não dava mais para sair nas ruas... os mais radicais olhavam com certa desconfiança todo estrangeiro...
Saí a tempo...
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