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sábado, 28 de agosto de 2010

O Urubu


Ilustração criada pelo autor.

Texto publicado no blog www.jairclopes.blogspot.com em julho de 2009.

O Aeroporto Internacional de Guarulhos, localizado no bairro de Cumbica daquele município, tem um departamento de zoologia que cuida do controle de animais que podem causar acidentes nas pistas. Esse departamento, a cargo de uma zoóloga, trata de retirar do local os animais potencialmente perigosos para as atividades de pouso e decolagem. Como se faz isso? Primeiro, conhecendo os hábitos dos ditos e usando esse conhecimento, não para eliminar ou prejudicar os bichos e, sim, para deslocá-los para local seguro. Assim, cobras, capivaras, quero-queros, cães, gatos e urubus são apanhados em armadilhas e mudados de endereço, com a intenção que não mais voltem. Quase todos os animais apanhados são soltos em locais ideais e não retornam para a área do aeroporto.
Mas, e os urubus? Aí está um trabalho muito mais difícil de fazer, já que os bichos são territoriais e relutam em adotar outro bioma que não seja aquele a que estão acostumados, e retornam de distâncias de até sessenta quilômetros para o local onde foram apanhados. Para começar, é necessário se conhecer o que é e como vive esse interessante animal. Os urubus, aves da família Cathartidae, primos pobres dos condores, são animais de extrema importância na natureza por serem necrófagos, ou seja, são aves que se alimentam de restos de animais já mortos. Apesar de feioso e com má fama, o urubu tem papel essencial na natureza. Como é um animal necrófago, que se alimenta de carne em putrefação, faz uma espécie de “faxina” nos locais onde vive, pois elimina do meio ambiente a matéria orgânica em decomposição. Contudo, ainda que se alimentem quase exclusivamente de carne em decomposição, não rejeitam carne fresta, o que faz supor que não “preferem” carniça, apenas tem mais facilidade de encontrá-la por motivos óbvios, é claro. Eles são responsáveis pela eliminação de quase a totalidade de carcaças dispostas em um ecossistema, sendo a maioria delas de mamíferos.
No Brasil são conhecidas cinco espécies de urubus: O imponente urubu-rei (Sarcoramphus papa) e o urubu-da-mata (Cathartes melambrotos), que muito raramente são encontrados próximos das áreas urbanizadas, e o urubu-preto (Coragyps atratus), este nosso conhecido nos lixões das cidades; o urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), e o urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus). Apesar de sua importância e abundância, poucas pessoas conhecem seus hábitos, como o comportamento alimentar e a hierarquia social respeitada por essas aves. Os urubus de-cabeça-vermelha e de-cabeça-amarela, normalmente, localizam primeiro a carcaça por possuírem um sentido de olfato mais apurado, sendo então seguidos pelas outras espécies. Para que possam ter uma boa visão de para onde os urubus-de-cabeça-vermelha e de-cabeça-amarela estão voando, as outras espécies procuram atingir grandes altitudes usando com maestria as correntes térmicas para planar, e muitas vezes somem de nossas vistas tornando-se um ponto minúsculo no céu. As correntes térmicas se formam quando o ar frio da atmosfera se aquece em contacto com a superfície terrestre exposta ao sol, tornando-se mais leve e subindo. Este modo de deslocamento permite às aves percorrerem grandes distâncias e permanecerem muito tempo flutuando com um dispêndio mínimo de energia. Essas mesmas correntes são aproveitadas, ainda que de maneira canhestra, pelos pilotos de planadores, os quais se valem de sua força ascensional para ficarem mais tempo no ar. Diferente das demais aves, os urubus não possuem penas em sua cabeça, isso pode ser explicado devido ao fato de se alimentarem de carniça, e essas penas poderiam ser um ponto de contaminação ao entrarem em contato com a carcaça, repleta de microorganismos prejudiciais a sua saúde. Há cientistas dedicados ao estudo do sistema imunológico destes animais para descobrir o segredo da resistência a infecções que parecem possuir.
Outro fato pouco conhecido sobre essas aves, é que existe uma clara organização na hora da alimentação. Esta “hierarquia” pode ser vista na maneira como as outras espécies de urubus se afastam da carcaça com a chegada do urubu-rei, e quando encontram uma pele muito resistente, somente ele é capaz de rasgar esta pele graças a seu bico mais forte que o das demais espécies. Dependendo do tamanho da carcaça, esta poderá alimentar muitos urubus, podendo algumas vezes acontecer uma competição entre eles. Com exceção do urubu-rei, que é afetado com ações do homem, tanto pela destruição de seu habitat como pela captura para tráfico por ser muito vistoso, as demais espécies não possuem predadores naturais e também não são “bonitas” a ponto de serem capturadas, de modo que aumentam sua população de acordo com o crescimento de lixo produzido pela sociedade humana.
Os cientistas ainda não desvendaram totalmente esse mistério, mas acreditam que os urubus degustam comida estragada sem passar mal graças ao seu sistema imunológico e ao potente suco gástrico secretado por seu estômago. Para encontrar a refeição, eles contam com olfato e visão apurados. São capazes de ver um bicho pequeno a três mil metros de altura! Mas os urubus não cantam de galo: eles não têm siringe, o órgão vocal das aves, e só fazem uns barulhos esquisitos chamados de crocitar, na verdade uma espécie de gorgolejo rouquenho. A reprodução dos urubus acontece no início da primavera. Diferentemente da maioria das aves, eles não constroem ninhos em galhos de árvores ou de arbustos. As fêmeas fazem a postura entre rochas escondidas, paredões rochosos e troncos ocos. Normalmente, colocam dois ou três ovos, sendo que o período de incubação varia de 49 a 56 dias conforme a espécie. Os filhotes, ao contrário dos pais, nascem pelados e se tornam totalmente brancos, só passando a ser negros na adolescência. Os pais revezam-se no ninho, ministrando a seus pequenos comida liquefeita regurgitada de seus estômagos; alimentam os filhotes durante meses.
Assim, conhecendo-se o modus vivendi desse útil, meio esquisitão e ecologicamente correto animal, é possível não só afastá-lo dos terminais aéreos, como preservá-lo para continuar fazendo o “trabalho sujo” que a ninguém apraz e que é tão necessário. No Aeroporto de Guarulhos foram capturados 287 animais, que depois de anilhados, foram soltos na serra do mar a oitenta quilômetros de lá. Desses, apenas dois voltaram ao ponto onde foram apanhados, o que prova que é possível livrar-se de seu perigo potencial para a aviação sem lhes causar mal. Homens e urubus podem viver perfeitamente bem, desde que os primeiros entendam e respeitem os segundos. JAIR, Floripa, 13/07/09.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Café


Ilustração copiada da internet.

Texto publicado no blog www.jairclopes.blogspot.com em julho de 200.
Desde que a sociedade moderna, tomada por preocupações quase insanas com a saúde, tornou-se ferrenha patrulheira alimentar ditando o que pode e o que não pode ser consumido, o café tem alternado status de mocinho e bandido quase toda semana, isto é, ora podemos e devemos tomar nosso cafezinho sem dor na consciência, ora corremos sérios riscos se o fizermos. A última notícia é que se pode tomar até seis cafezinhos por dia sem quaisquer problemas, aliás, é até recomendável que se faça. Antes que essa gangorra cafeinística incline-se para o outro lado nos proibindo de degustar a infusão dessa fascinante rubiácea, vamos conhecê-la um pouco.
A lenda sobre as origens do café diz que, numa região montanhosa de onde hoje é a Etiópia, no século III d. C., um pastor de cabras, chamado Kaldi, certa noite preocupou-se quando algumas de suas cabras não retornaram ao rebanho. Saiu para procurá-las e encontrou-as saltitando próximo a um arbusto cujos frutos estavam mastigando e que obviamente foi o que lhes deu a estranha energia a qual ele nunca vira antes. Dizem que ele mesmo experimentou os frutos vermelhos meio adocicados e descobriu que eles o enchiam de energia, como aconteceu com as cabras. Entusiasmado, o pastor levou essa maravilha ao mosteiro local, mas as reações dos religiosos não foram favoráveis e ele ateou fogo nos frutos, dizendo serem "obra do demônio". O aroma exalado pelos frutos torrados nas chamas atraiu os monges curiosos para descobrir de onde vinha aquele maravilhoso perfume e os grãos de café foram rastelados das cinzas e recolhidos. O abade mudou de idéia, sugeriu que os grãos fossem esmagados na água para ver que tipo de infusão eles davam, e os religiosos logo descobriram que o preparado os mantinha acordados durante as rezas e períodos de meditação noturnos. Notícias dos poderes da bebida espalharam-se de um monastério a outro e, assim, aos poucos espalharam-se por todo mundo, aliás, por toda a região leste africana.
As evidências históricas botânicas sugerem que a planta do café originou-e, realmente, na Etiópia Central, onde ainda hoje é possível encontrar plantas selvagens que crescem nas terras altas do país. Ninguém parece saber exatamente quando e onde o primeiro café foi tomado, mas os registros dizem que isso ocorreu em sua terra nativa em meados do século XV. Também sabemos que foi cultivado no Iêmen (antes conhecido como Arábia, daí o nome da variedade arabica), com a aprovação do governo, aproximadamente na mesma época, e pensa-se que talvez os persas levaram-no para a Etiópia no século VI d.C., período em que invadiram a região.
À medida que o café tornou-se cada vez mais popular, salas especiais nas casas dos mais abastados foram reservadas para se tomar a infusão, e estabelecimentos para degustação desta saborosa bebida começaram a aparecer nas cidades. A primeira abriu em Meca, no final do século XV e início do XVI e, embora originalmente fossem lugares de reuniões religiosas, esses amplos saguões onde os clientes se sentavam em esteiras de palha ou colchões sobre o chão, rapidamente tornaram-se centros de música, dança, jogos de xadrez, gamão etc. Às vezes, esses centros populares de diversão eram atacados e destruídos por fanáticos religiosos, e alguns governantes apoiavam a proibição do café e impunham punições aterrorizadoras: aqueles que desobedecessem poderiam ser açoitados, presos dentro de um saco de couro e atirados no Bósforo. Por aí se vê que, além de restrições baseadas em suas supostas propriedades estimulantes, o café também sofria proibições de caráter religioso.
No início do século dezoito os portugueses compreenderam que as terras brasileiras tinham todas as condições que convinham a plantação de café. Mas, infelizmente, eles não possuíam nem plantas nem sementes. O oficial luso-brasileiro Francisco de Mello Palheta, em 1727 recebeu a incumbência de ir à Guiana Francesa para tratar de questões fronteiriças como pretexto para trazer sementes de café. Naquela época, assim como sucedeu com os árabes, a produção cafeeira só era permitida em colônias européias, com um alto faturamento comercial, por isso Portugal armou seu plano. Consta que Palheta teve um affair amoroso com a esposa do governador de Caiena e voltou ao Brasil com sementes de café arábica clandestinamente escondidas num vaso de planta presenteado por Madame D’Orvilliers.
Hoje o Brasil é um dos maiores produtores do planeta e, por feliz acaso, essa planta que dá uma bebida considerada sensual e estimulante entrou no país graças a uma história galante. Existem dois tipos de café comercialmente importantes: o café arábica e o canephora (robusta). O arábica cresce normalmente em altitudes acima de mil pés, tem um sabor mais refinado e possui cerca de um por cento de cafeína em sua composição. Já a variedade robusta, como o nome indica, é uma espécie mais resistente e floresce em menores altitudes, produzindo cafés com um sabor mais rústico. O país que mais consome café é os Estados Unidos e onde o café encontrou a maior variedade de sabores e expressões foi na Itália. Existem várias técnicas de preparo do pó para se obter um bom cafezinho: filtragem, percolação, prensagem e pressão, mas tudo é passar água quente pelo pó de modo a lhe extrair o sabor. Pelo pó de café deve passar somente água quente, jamais a bebida. A recirculação torna a bebida muito amarga, áspera e desagradável. O café usado (café esgotado, borra) é o pior inimigo do sabor, aroma, da cafeteira e da sua saúde. Jogue-o fora. Nunca o reutilize, sequer misturando-o ao café fresco, isso é um verdadeiro assassinato do sabor. Para garantir a qualidade ideal, o café já usado e a bebida preparada devem ficar sempre separados. Deguste com prazer uma bebida fresca, um café preparado na hora, ou o mais recente possível. A característica da bebida café é a de ir deteriorando-se lentamente – o oxigênio a tudo ataca e deteriora - e, por isso, um café preparado há mais tempo não tem o mesmo sabor agradável de um café fresco. Para os paladares mais variados existe ainda os tipos, solúvel, aromatizado, orgânico, gourmet e descafeinado.
Seja você um mero tomador de café como alimento no seu desjejum, ou aficionado que passa boa parte do dia com a xícara na mão, desfrute sem culpa dessa bebida que é única, universal e extraordinária. Bon apetit! JAIR, Floripa, 13/07/09.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Vira-latas



Foto de meu acervo
Texto publicado em abril de 2009 no blog: www.jairclopes.blogspot.com
Ao publicar “CACHORRO VIRA-LATAS” fiquei devendo aos meus leitores um texto sobre estes simpáticos animais. Já que a intenção era escrever sobre sementes selecionadas geneticamente, e o cão destinava-se a ser somente um auxílio à compreensão do assunto, uma espécie de fio condutor que nos iria permitir encontrar o caminho ao âmago dos nós górdios criados pelos humanos quando começaram a caminhada do cruzamento seletivo de espécies.
Por isso, utilizando um pouco partes daquele texto, e, para fazer justiça, escrevo algo a respeito dos SRD. Habitualmente denominamos vira-latas os cães sem dono que vagam pelos centros urbanos em busca de alimento, e que, no afã de conseguiram algo para se alimentarem, costumam virar latas de lixo. Na verdade, o vira-latas é muito mais que um cão abandonado, é um sobrevivente. É o animal que os veterinários costumam classificar como SRD – Sem Raça Definida – mas que possui o melhor aparato genético para sobrevivência, sob quaisquer condições.
Desde que o homem paleolítico domesticou o lobo asiático, procurou desenvolver nos descendentes obtidos a partir das matrizes lupinas, características ou qualidades tais que cumprissem certos requisitos, desenvolveu as centenas de raças que conhecemos hoje. Só que, em troca desses atributos úteis aos humanos, as raças “depuradas” a partir da espécie original deixaram para trás outras virtudes que as tornaram menos aptas, provando que em seleção genética artificial não existe almoço grátis. Isso quer dizer que um cão de caça não é necessariamente tão inteligente quanto SRD, por exemplo; tampouco um cachorro desenvolvido para guardar ovelhas ou propriedades deverá ter a mesma resistência a doenças que o SRD, também.
Uma pesquisa realizada numa universidade da Escócia, utilizando inclusive testes de QI, concluiu que cachorros vira-latas são mais inteligentes que aqueles que têm pedigree, segundo publicação da BBC Brasil em seu saite. O estudo utilizou 80 cachorros. De acordo com os cientistas, os vira-latas apresentam melhor noção de espaço e resolvem problemas com mais facilidade do que os cães de raça. O cachorro mais inteligente foi uma mistura das raças Collie e Spaniel, que atingiu nota máxima em todos os testes. O segundo lugar foi ocupado por quatro cães com raças misturadas: uma mistura de Labrador com Spaniel, outra de terrier Jack Russell com Cocker Spaniel, um Pastor Alemão com Labrador e uma Lhasa Apso com Poodle. Os filhotes que tinham a raça Collie na mistura eram mais inteligentes que outros cachorros vira-latas. O estudo concluiu, por fim, que a polícia deveria treinar cães vira-latas e não confiar apenas nos pastores alemães de raça pura.
A mistura genética que a natureza levou milhões de anos para desenvolver dotou os animais de aptidão para viver e multiplicar-se sob as condições mais adversas. Enquanto os cães de raça pura foram selecionados por suas qualidades, geralmente, de beleza, porte, grau de agressividade, pelagem ou outros. Genes de herança autossômica recessiva que não favoreçam a inteligência podem, perfeitamente, estar causando um "
efeito fundador" nesses cães. (Efeito fundador acontece quando há formação de uma colônia separada a partir da população original, por dispersão e, após várias gerações, ocorre isolamento reprodutivo, ou seja, os descendentes da colônia isolada tendem a reproduzir, com mais freqüência, genes dos espécimes que a constituíram, sendo que, se estes espécimes tiverem certas particularidades, estas tornam-se comuns nos descendentes). Os da raça Collie tiveram algum grau de seleção devido à noção de espaço e resolução de problemas, pois originalmente eram cães pastores. A pesquisa foi feita com cães resultante de mistura de raças bem definidas.
Há indícios que cães descendentes de misturas caóticas de raças, ou seja, SDRs com genes vindos de várias raças, vira-latas bem definidos como tais, tenham ainda tais capacidades mais desenvolvidas. Um vira-latas sempre aparenta saber para onde vai e o que quer, com seu jeito decidido. E, se parado, tem aparência altiva, mostra a segurança de quem está no lugar devido, na hora certa. Humanos, por mais que saibam para onde ir, sempre têm jeito um tanto patético dos perdidos no mundo. Parados, mal sabem onde pôr as mãos. Por isso, inventaram os bolsos e o hábito do fumo. Cães não têm bolso e não fumam, talvez por isso, saibam onde põe as patas.
E, assim, os cães de raça, com suas designações ostentosas e pedigrees que estendem suas linhagens a muitas gerações pretéritas, podem ser escolhidos, e são, por seus donos, de acordo com as preferências ou necessidades destes. O vira-latas, por sua vez, prefere e sabe fazer escolhas ele mesmo, normalmente é ele que adota o dono. Sem árvore genealógica a lhe conferir nobreza, atravessa a rua sozinho, depois de olhar para ambos os lados, coisa que o homem com toda sua inteligência e empáfia nem sempre faz. Há, sem dúvida, mais dignidade em um vira-latas urbano na sua independência e auto-suficiência, que em um dálmata numa exposição canina, ou um poodle no colo da madame. Os inconvenientes da sarna, da exposição a microorganismos perversos, da fome, dos atropelamentos, das pedradas e de dormir ao relento dão fibra à sua alma e rigidez ao seu corpo, quase sempre “sarado”.
O vira-latas nos ensina a sermos felizes com pouco. Mesmo quem não tem nada pode ter um cão de rua, desde que ele queira. Mendigos e loucos conversam com um vira-latas de igual para igual, e este lhes lambe as mãos. Se repararmos a chusma de cães atrás de uma única cadela, podemos ver a seleção natural em plena atuação. Linhagens inteiras de vira-latas foram concebidas e fundadas em madrugadas silenciosas das urbes de todo o planeta. Vira-latas existem aos montes pelas ruas, contudo, nenhum igual ao outro. Parecidos quase sempre, iguais nunca. Em sua mixórdia genética, ele é antes de tudo um forte. Nunca foi vacinado ou precisou de qualquer auxílio veterinário para sobreviver. Quando perguntam por aí: se você fosse um bicho qual seria? A maioria responde coisas como cavalo puro sangue, pantera, leopardo ou faisão, animais bonitos e considerados nobres. Eu também me fiz essa pergunta e cheguei à resposta que me satisfaz plenamente: gostaria de ser um
vira-latas. Dos mais comuns, tamanho médio e sem cor definida. JAIR, Floripa, 30/04/09

domingo, 15 de agosto de 2010

Dinossauros


Painel montado pelo autor.

Texto publicado no blog: www.jairclopes.blogspot.com em junho de 2009.
Os dinossauros eram répteis que habitavam ambientes terrestres e aquáticos e que prevaleceram na Terra de forma hegemônica entre os períodos mesozóico, jurássico e início do cretáceo. Há sessenta e cinco milhões anos desapareciam aqueles que foram os animais mais formidáveis a pisarem no planeta Terra. Depois de dominarem sem contestação todos os continentes e recantos da terra firme, lagos, rios e ares por mais de cento e cinquenta milhões anos, desapareceram para sempre. A teoria mais aceita, e que tem provas abundantes favorecendo sua concordância por parte da comunidade científica, é que um corpo celeste – que pode ter sido um meteorito ou um cometa – de proporções médias, atingiu a Terra nas proximidades de onde hoje se situa o golfo do México, causando uma devastação tal que exterminou oitenta por cento da vida do planeta, inclusive os dinossauros.
Ao contrário do que se imagina, os dinos não eram exatamente apenas répteis enormes ou estupidamente grandes, muitos eram do tamanho de um cão pequeno, outros tão grandes quanto um cavalo e alguns como o gigantossauro, por exemplo, eram alguma coisa inimaginável assim como um edifico de quatro andares de altura, compridos como dois vagões de trem alinhados e chegavam a pesar cem toneladas. Há, ainda, indícios que eram animais inteligentes, gregários e que cuidavam da prole. Com o impacto do corpo celeste criou-se uma nuvem de poeira que alterou radicalmente as condições climáticas do planeta, os animais que não foram atingidos diretamente pelo choque e explosão subseqüente, morreram lentamente de inanição porque a vegetação foi desaparecendo por falta de luz solar. Os herbívoros morrendo primeiro proporcionaram uma sobrevida aos carnívoros, que faleceram em seguida. Acontece que, por terem vivido muitos milhões de anos e terem habitado todo o planeta, tiveram tempo e espaço para deixar marcas de sua passagem, muitas e indeléveis marcas.
Em todo mundo existem fósseis deles e de seus ovos e muitas pegadas impressas no que teria sido lama, que com o tempo solidificou e tornou-se rocha, perpetuando seus rastros para gáudio da ciência dos nossos dias. No Brasil, onde muitas espécies desses lagartos viveram por milhões de anos, existem pegadas atestando essa passagem. Os fósseis são encontrados nos mais diversos lugares, sendo que, em abundância, na cidade de Sousa, Paraíba. Nesse local, foram encontrados os primeiros registros fósseis do Brasil, em 1897: tratava-se de pegadas fossilizadas descobertas na localidade de Passagem das Pedras, pelo agricultor Anísio Fausto da Silva, que acreditava tratar-se de rastros de boi e ema. O Vale dos Dinossauros, como passou a ser chamado, abriga pegadas que estão no leito do Rio do Peixe há mais de 130 milhões de anos e que chegam a medir meio metro cada uma, formando uma fileira de 60 pegadas. Ao longo dos anos, foram encontradas diversas pegadas de espécies diferentes, podendo ser observadas as marcas deixadas por iguanodontes, carnossauros e pterossauros (répteis voadores também extintos, parentes dos dinossauros), fazendo crer que ali existia uma espécie de "Jurassic Park" tupiniquim. Este fato faz com que o Nordeste brasileiro seja reconhecido pela paleontologia do continente americano, contribuindo como um grande centro de estudos. O Vale dos Dinossauros compreende uma área de mais 700 km², são aproximadamente 30 localidades, as mais importantes em, em que se registra pegadas fossilizadas de mais de 80 espécies em cerca de 20 níveis estratigráficos. São pegadas fossilizadas que variam de 5 cm como as de um dinossauro não maior de que um galináceo, até 40 cm de comprimento a exemplo das pegadas de iguanodonte de 4 toneladas, 5 metros de envergadura e 3 metros de altura. A maior parte das trilhas é pertencente a dinossauros carnívoros. As primeiras pegadas encontradas estão na chamada Passagem das Pedras e são de iguanodonte, há vestígios também do temido tiranossauro rex e de um pterodáctilo.
O Vale possui uma riqueza de materiais relacionados com a paleontologia, como as próprias pegadas, chuva fossilizada, registros únicos sobre os estudos do próprio local, que nos proporciona uma experiência única, onde nos deparamos com um ambiente úmido, vegetação constantemente verde, extremamente diverso do resto da região. As marcas dos animais fazem parte do dia-a-dia de Sousa, a quarta maior cidade da Paraíba, com 79 mil habitantes. Lugares como Praça dos Dinossauros, boate Rocksauro e dinos desenhados nas fachadas das lojas são coisas comuns pelas ruas. Ainda que acolhedora, a cidade de Sousa não conta com uma infra-estrutura local preparada para o turismo, você não encontra passeios formados, transporte especial ou agências de viagens e passeios. Os guias locais só existem dentro do Parque.
Para quem gosta de aventura e de explorar a região de terras desconhecidas, o melhor é procurar um pacote que inclua o vale no roteiro. A prefeitura, no entanto, ainda não melhorou a estrada que leva ao vale e só agora vai cercar as pegadas, e desviar o Rio do Peixe, que na época das chuvas inunda as pegadas. O Parque dos Dinossauros foi criado no município de Souza e é de propriedade da prefeitura. Ocupa uma área de 40ha e conta com um pequeno museu onde se vêem réplicas de pegadas, mapas e maquetes que mostram a formação do solo. É lá que encontra o leito do rio dos Peixes, onde podem ser vistas as trilhas deixadas por tiranossauros, carnossauros e
iguanodontes. A preservação de acervo único como este é de suma importância para o desenvolvimento da paleontologia brasileira. A falta de estrutura e meios de pesquisa e estudos dificultam a difusão do conhecimento que é essencial para a inclusão do Brasil entre os países que valorizam o conhecimento da história natural. Esperemos que as próximas administrações da cidade de Souza se preocupem mais em preservar e divulgar este que é o mais importante portal natural brasileiro que permite adentrar o fascinante mundo pré-histórico. JAIR, Canoas, 17/06/09.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O Tatu


Imagem copiada da internet

Texto publicado no blog: www.jairclopes.blogspot.com em junho de 2009.
O tatu é um mamífero desdentado pequeno encouraçado, isto é, tem uma espécie de armadura que o protege contra os predadores, (em espanhol, o nome do bicho é "armadillo" que quer dizer exatamente, Encouraçado). Esta "armadura" é composta por placas ósseas muito fortes que envolvem todo o seu corpo, da cabeça até à ponta da cauda na maioria das espécies, porque em algumas o rabo é desprovido delas, é coberto de couro e tem pelos, essas espécies são chamadas Tatus-de-rabo-mole que, aliás, são erroneamente tidos como violadores de cemitérios, onde se alimentariam de cadáveres. Melhor para eles, pois assim não são abatidos para servir de refeição a ninguém. Em geral corpo do animal é castanho e pode ter variações entre o castanho claro e o amarelo acinzentado. A gravidez da mãe tatu demora mais ou menos dois meses. As crias nascem entre dois a quatro por ninhada, sendo todos gêmeos univitelinos, ou seja, todos machos ou todos fêmeas, não existem ninhadas mistas. Os filhotes do tatu nascem sem pêlos, sem dentes, sem ouvir, sem ver e com a boca tapada por uma membrana que só tem uma pequena abertura que lhes permite mamar, são completamente dependentes da mãe, depois, conforme vão crescendo, tudo muda, eles passam a ser ativos e autônomos, não mais precisam de cuidados maternos. Para fazer a sua toca, o tatu cava túneis muito profundos na terra mole da floresta ou do campo unde vive. É na toca que passa a maior parte do dia e ela é tão grande que podem morar lá vários tatus. Essas tocas têm várias entradas o que permite ao tatu evadir-se ou despistar os predadores. Mas, se o tatu passa o dia dentro da sua toca, como é que come? Bom, como é um animal noctívago (que dorme de dia e sai à noite) o tatu vai à procura de alimento depois de escurecer. Os tatus são bons caçadores porque são muito rápidos em terra firme e nadam bem. Comem insetos (principalmente formigas, cupins e suas larvas) e outros invertebrados, minhocas e alguns vegetais, como raízes, frutos, etc.
Este animal vive apenas na América, sendo que, por alguma razão desconhecida, está migrando das áreas quente onde sempre viveu para os Estados Unidos. Desde 1880 foram detectados alguns indivíduos entrando no Texas vindos do México e, de lá para cá, já foram vistos até em estados bem mais frios ao norte.
O bicho existe há milhares de anos. Fósseis encontrados em sítios arqueológicos nas Américas atestam três coisas: O animal vivia em uma vasta área, muito maior que esta que seus descendentes hoje vivem; seu antepassado pré-histórico era gigantesco, chegava a ter o tamanho de um fusquinha; e o homem paleolítico se alimentava desse antepassado grandão. Até hoje os maiores inimigos dos tatus são os homens, que gostam muito da sua carne para comer, mas também as onças e as aves de rapina.
Contudo, estes predadores nem sempre têm sorte, porque quando o tatu se sente ameaçado corre para uma de suas tocas e, o tatu-bola em particular, enrola-se todo e nenhum inimigo, a não ser o homem, consegue capturá-lo. Os tatus, tal como as preguiças e os tamanduás fazem parte de uma ordem de animais chamada "sem dentes", contudo, o engraçado é tatus e preguiças não são "banguelas", algumas espécies têm até noventa dentes. Talvez, têm este nome porque seus dentes, apesar de até serem muitos, não têm raiz, são assim como os nossos dentes de leite.
Existem várias espécies de tatus, alguns grandes como o
Tatu-canastra que é também chamado de Tatu-açu, Tatu-carreta e, tanto sua designação sistemática (giganteus) como seu nome indígena (açu) ressaltam bem o fato de ser o maior dos tatus vivos, pode medir um metro de comprimento do focinho até a ponta da cauda, e chega a pesar sessenta quilos. Seu corpo, quase totalmente desprovido de pêlos, apresenta alguns fios duros, esparsos, que aparecem entre as placas do seu revestimento. É o maior e mais raro dos tatus vivos e é um bicho que só briga quando inevitável. Por causa de sua carne saborosa e armadura resistente, hoje é raríssimo nas diversas regiões brasileiras onde ocorria. Vive na Floresta Amazônica e trechos de Mato Grosso, longe de zonas povoadas.
Este animal vive muito mal em cativeiro, por isso é difícil encontrá-lo em zoológicos. Ele faz parte dos 207 espécies de animais que estão ameaçados de extinção, apesar de serem protegidos por lei. Outra espécie curiosa desse animal é o
Tatu-bola, que é o menor tatu brasileiro, o único tatu endêmico, isto é, que existe apenas no nosso país e o mais ameaçado, porque, como não cava bem como os outros tatus, é mais fácil de ser caçado na região de seca, onde há pouca comida. Para se defender, esse tatu se enrola completamente, formando uma bola, daí o nome popular, e o rabo e a cabeça se adaptam como num quebra-cabeça, protegendo o corpo do tatu, o que não o defende do homem, porém, porque fica fácil pegar a bola que é o tatu e enfiar num saco. Por ser ainda muito caçado, o tatu-bola desapareceu em Sergipe e no Ceará, mas ainda existe na Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte, nas regiões ainda despovoadas. Apesar de protegido por lei, esse animalzinho é caçado até dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara e da Estação Ecológica do Raso da Catarina, áreas de conservação, onde no passado o tatu-bola existia em quantidade. Nas Américas há 21 espécies desse desdentado noturno, diferentes no tamanho e nos habitats. O Tatu-de-nove-faixas, também conhecido como tatu galinha, é muito difundido desde a América do Sul até a região central dos Estados Unidos para onde migrou, conforme dissemos acima. Para salvar o tatu, os cientistas estão propondo estudos para criação em cativeiro e principalmente programas de educação ambiental para a população da área onde ainda sobrevivem esses animais. O problema é que esses bichos vivem, justamente, em regiões onde caboclos com fome, ou por hábito mesmo, não deixam de caçar os tatus para comê-los, se tiverem oportunidade.
Outra coisa é que os tatus são animais que não se adaptam a quaisquer mudanças de ambiente, se o local em que vivem se deteriora por ação do homem eles desaparecem. Finalmente, gostaria de viver num mundo em que meus netos pudessem conhecer essa criatura ambientalmente sensível, tímida e tão interessante. Acredito que sua perpetuação forneceria a prova que vivemos num planeta viável. JAIR, Canoas, 14/06/09.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Monólogo de uma Árvore



Sou mais uma planta do Cerrado. Sou árvore resistente. Quantas vezes já fui queimada viva. Olhem meu tronco: há marcas de queimaduras por todo meu corpo; no início, quando era mais jovem, meu tronco se refazia quase totalmente. Hoje, a cada queimada, fico mais escura e envelhecida. Olho à minha volta. O que vejo? Poucas árvores, minhas companheiras, resistiram e do que semeei, muito, muito pouco conseguiu sobreviver. As plantas nativas, como eu, árvore pensativa, quando não são destruídas por queimadas, são arrancadas para darem lugar para mais abrigos do inimigo número um de nossa Mãe Natureza. Tudo bem, eles nascem às centenas todo segundo, mas não podemos conviver um com o outro? Não podemos ser amigos? Queria tanto. Quero continuar vendo crianças subindo, alegres, em meu tronco. Quero abrigar aqueles que passam por mim e descansam sob minha copa. Quero ver pássaros fazendo ninhos em meus galhos. Quero não ver mais queimadas. É horrível. Quero não ver mais plantas sendo arrancadas. Olhem, de onde estou avisto um bosque de eucaliptos. Eles não são daqui; foi a mão 'daquele inimigo' que os plantou. Coitado, ele não sabe que eles, os eucaliptos, não gostam deste clima do cerrado. Ele não sabe que somos nós, árvores nativas deste lugar, que podemos melhor sustentar o solo. Ele não sabe... Ele não sabe tantas coisas.
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Notas: 1- Foto e texto do blog Multivias - A Natureza em Fotos e Variedades. Post: Via Natureza 12: Série Cerrado - I: Monólogo de uma Árvore
2- Todas as fotos e textos do blog Multivias são de minha autoria, Luísa N. Tenho vários álbuns de fotos sobre a natureza; caso você queira utilizar alguma(s), do blog ou dos álbuns, fique à vontade. Mas, por favor, cite a fonte e os créditos. Você não gostaria que eu pegasse uma imagem, um poema ou algum outro texto seu e copiasse sem a devida citação, não é verdade? Logo, não faça o mesmo com os outros blogueiros.

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Conceito de Agroecologia

Na agroecologia, o solo pertence à Mãe Terra
que precisamos tratar com carinho para obter
— a longo prazo —
o alimento saudável indispensável para viver.
Para a agroecologia, a terra não representa apenas
um meio de produção, calculando exatamente
quanto adubo químico vamos misturar ao solo
afim de obter o rendimento máximo.


O conceito de agroecologia quer sistematizar todos os esforços em produzir um modelo tecnológico abrangente, que seja socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente sustentável; um modelo que seja o embrião de um novo jeito de relacionamento com a natureza, onde se proteje a vida toda e toda a vida, estabelecendo uma ética ecológica que implica no abandono de uma moral utilitarista e individualista e que postula a aceitação do princípio do destino universal dos bens da criação e a promoção da justiça e da solidariedade como valores indispensáveis. A rigor, pode-se dizer que agroecologia é a base científico-tecnológica para uma agricultura sustentável.

O modelo de agricultura sustentável são os conhecimentos empíricos dos agricultores, acumulados através de muitas gerações, ao conhecimento científico atual para que, em conjunto, técnicos e agricultores possam fazer uma agricultura com padrões ecológicos (respeito à natureza), econômicos (eficiência produtiva), sociais (eficiência distributiva) e com sustentabilidade a longo prazo.

Na agroecologia a agricultura é vista como um sistema vivo e complexo, inserida na natureza rica em diversidade, vários tipos de plantas, animais, microorganismos, minerais e infinitas formas de relação entre estes e outros habitantes do planeta Terra.

O conceito de agroecologia e agricultura sustentável consolidou-se na Eco 92, quando foram lançadas as bases para um desenvolvimento sustentável no planeta. Nos dias de hoje, o termo é entendido como um conjunto de princípios e técnicas que visam reduzir a dependência de energia externa e o impacto ambiental da atividade agrícola, produzindo alimentos mais saudáveis e valorizando o homem do campo, sua família, seu trabalho e sua cultura.

A Agroecologia também é definida como a produção, cultivo de alimentos de forma natural, sem a utilização de agrotóxicos e adubos químicos solúveis.

A produção agroecológica ou orgânica cresce no mundo todo a passo acelerado a uma taxa de 20 a 30% ao ano. Estima-se que o comércio mundial movimenta atualmente cerca de 20 bilhões de dólares, despontando a Europa, Estados Unidos e Japão como maiores produtores e consumidores.

A Agroecologia engloba modernas ramificações e especializações, como a: agricultura biodinâmica, agricultura ecológica, agricultura natural, agricultura orgânica, os sistemas agro-florestais, etc.

Os sistemas agroecológicos têm demonstrado que é possível produzir propiciando a possibilidade natural de renovação do solo, facilita a reciclagem de nutrientes do solo, utiliza racionalmente os recursos naturais e mantém a biodiversidade, que é importantíssima para a formação do solo.
Fontes: www.amda.org.br/interna_acoes_agroecologia.asp www.epagri.rct-sc.br/agroecologia/agroecologia_sc.html www.aultimaarcadenoe.com.br/agroecologia.htm diocese.pelotas.tche.br/agroecol.htm

Uma lenta (r)evolução
O pequeno agricultor, pratica a agroecologia mesmo sem conhecer a definição, tem na mesa da família, alimentos saudáveis, produzidos por ele mesmo e pela comunidade; porém a grande maioria faz assim, por não ter a opção de adquirir os caros insumos e pelo díficil acesso a uma assistência técnica adequada. Isto porque estão todos contaminados pela mídia da indústria do agroveneno.

Mesmo que lentamente, os pequenos agricultores, estão percebendo a grande farsa ambiental, e os perigos que os alimentos produzidos pela agricultura industrial trazem para a saude humana. Então cada vez mais, procuram resgatar, conhecer e revitalizar as técnicas antigas de produção, assim como aprendem a fazer o uso de técnicas cientificas e tecnológicas, que permitam manter a diversidade ambiental.

Aos poucos, o agricultor familiar esta entendendo que é capaz de produzir para o seu sustento, para a troca e para a venda. Sistemas de consorciação e rotação de culturas, aliados a procura e conhecimento das cultivares que melhor se desenvolvem regionalmente, aumentam a estima do agricultor pelo próprio lugar, evita a saída para os aglomerados urbanos, além de abastecer os mercados com produtos livres de venenos.
Almirante Águia

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Baratas


Ilustração retirada da internet.


Texto publicado no blog: www.jairclopes.blogspot.com em junho de 2009.
Costuma-se ouvir por aí que os únicos animais que resistiriam a uma explosão atômica seriam as baratas, e até mais, no caso de hecatombe nuclear, enquanto os demais seres vivos do planeta sucumbiriam pela radiação resultante, as baratas se adaptariam e tornar-se-iam os animais dominantes na face da terra, em decorrência da ausência de predadores e competidores naturais. Essas afirmações não estão muito longe da verdade, as baratas, insetos da ordem das Blattaria, estão entre os animais mais resistentes e adaptáveis da fauna mundial. Há mais de 400 milhões de anos vivendo sob as mais diversas condições de climas, competindo com outros seres e tendo tempo suficiente para evoluir e adaptar-se, as baratas tornaram-se campeãs de sobrevivência. Comparando as baratas de hoje com as do passado elas mudaram muito pouco, permanecendo como insetos não especializados, ou seja, comem de tudo e não têm exigências especiais quanto ao ambiente em que vivem. Das tantas características desse inseto, pode-se relatar a capacidade de sobrevivência sem se alimentar durante até um mês, sem ingerir água durante até uma semana, ficar até 40 minutos submersa e se deslocar por fendas muito pequenas de até 1,6 mm, há indícios, inclusive, que algumas espécies chegam a se aliementar do próprio inseticida usado para matá-las. Como os demais, é um inseto ovíparo, que dizer, que se reproduz colocando ovos, e o faz na ooteca que é uma estrutura em forma de cápsula hermética que tem a função de proteger os ovos das variações do ambiente, inclusive dos inseticidas, garantindo assim, a perpetuação da espécie. O corpo das baratas tem formato ovular achatado. A cabeça é curta, subtriangular, apresentando olhos compostos grandes e geralmente dois ocelos (olhos simples).
Em geral são de coloração parda, marrom ou negra, porém existem espécies coloridas. Nas zonas tropicais, predominam as de cor marrom avermelhada, além das cores verde e amarela. O formato e o tamanho variam dependendo da espécie, mas em gênero podemos dizer que as fêmeas são maiores que os machos, porém os machos têm as asas mais desenvolvidas. A maior barata tem aproximadamente 20 centímetros de comprimento, já, a menor, cerca de 4 milímetros e por ser tão pequena, vive em ninhos de formigas. As baratas gostam de ambientes úmidos e algumas espécies preferem lugares quentes. A alimentação é variada. As baratas são insetos onívoros, ou seja, comem qualquer coisa, tendo principal atração por doces, alimentos gordurosos e de origem animal, por certo não se preocupam com o colesterol, o diabetes nem com a balança. Conseguem perceber o perigo através de mudanças na corrente do ar à sua volta. Elas possuem pequenos pelos nas costas que funcionam como sensores, informando a hora de correr. As baratas domésticas podem ser vetores mecânicos de doenças e são responsáveis pela transmissão de vários microorganismos nocivos através das patas e fezes.
Por isso, são consideradas perigosas para a saúde dos seres humanos, contudo, o maior óbice de sua convivência com os homens refere-se à repugnância real ou suposta que as pessoas por ela sentem, por se tratar de animais que vivem em esgotos e ambientes contaminados, ou seja, são insetos “sujos”. Os seres humanos também odeiam baratas porque pode ser extremamente difícil acabar com elas em razão de seu comportamento natural. Elas se reproduzem rapidamente e são difíceis de matar. Como elas são noturnas, muitas pessoas não percebem sua presença até que sejam tantas que acabaram sem lugares para se esconder. As baratas são particularmente boas para se esquivar e fugir de chinelos, jornais e outras armas domésticas, e várias espécies se tornaram resistentes aos inseticidas.
Das 4 mil espécies de baratas que existem no mundo, porém, apenas algumas infestam casas e pontos comerciais. Na verdade, em muitas partes do mundo apenas uma espécie - a barata alemã - é responsável pela maioria das infestações. Infelizmente, as pessoas têm uma boa parte da culpa por essa prevalência mundial. A maioria das pragas de baratas se espalhou pelo planeta pegando carona em barcos, aviões, caminhões a até mesmo em caixas de mudança e sacolas de supermercado. Não importa se estão digerindo madeira decomposta em uma floresta tropical, saboreando restos numa lata de lixo industrial ou se escondendo debaixo de uma geladeira, as baratas são fascinantes.
Elas são insetos primitivos extremamente adaptados e nada indica que venham a se tornar extintas algum dia. Apesar de sua natureza imutável, elas sobreviveram quando outras espécies não conseguiram. Por exemplo, os dinossauros foram extintos há 65 milhões de anos, mas as baratas continuaram prosperando até os dias de hoje. Entretanto, mesmo apresentando o status de superinsetos que podem parecer indestrutíveis, elas servem de alimento para uma variedade de outros animais. Algumas espécies de vespas usam as baratas como incubadoras para seus ovos. Uma vespa fêmea pica a barata ou retira suas antenas para deixá-la paralisada. Depois, ela deposita seus ovos dentro da barata, onde os filhotes irão crescer alimentando-se das proteínas baratais até a fase adulta, quando abandonam o local e vão reiniciar o ciclo de vida vespal em outra barata. Além disso, outra praga caseira, as comuns centopéias, comem as ninfas das baratas. Algumas espécies de pássaros como o anu e o bem-te-vi também se alimentam de baratas na falta de melhor prato, supõe-se.
Pelo fato de as baratas serem tão resistentes e adaptáveis estuda-se seu organismo com a finalidade de descobrir quais os mecanismos que permitem seu sucesso, e se esses mecanismos são passíveis de serem aproveitados em favor da sobrevivência humana. Cientistas chineses afirmam que componentes químicos encontrados no sistema imunológico das baratas poderão ter um efeito tão benéfico quanto ao AZT no tratamento da AIDS, e isso, por si só, já é uma notícia que justifica olharmos o inseto com menos repugnância e com mais praticidade no sentido de aproveitá-lo para pesquisas médicas. Pelo sim pelo não, vamos dar o benefício da dúvida às baratas! JAIR, Canoas, 05/06/09.
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