Muito bem, durante a crise do petróleo nos anos setenta, crise que assustou o público consumidor do produto e despertou a consciência das nações para o quanto eram dependentes do óleo extraído, em maior parte, de uma região instável politicamente e conflagrada por guerras recorrentes, o mundo ocidental não auto-suficiente se viu compulsado a adotar medidas que permitissem diminuir ou eliminar sua dependência do óleo oriundo do Oriente Médio.
Fora as pirotecnias demagógicas que muitos líderes adotaram como recomendar aos usuários que deixassem seus carros em casa, andassem de bicicleta ou a pé, houve medidas econômicas como aumentar o preço dos combustíveis de modo a tornar proibitivo que os mais pobres usassem seus veículos. A indústria automotiva botou a boca no trombone, ameaçou fechar muitas fábricas, – em alguns casos fechou mesmo – demitir gente e lembrou que isso diminuiria a arrecadação de impostos. Os governos acuados recuaram o mais das vezes, e tomaram medidas para buscar novas jazidas do produto ou fontes alternativas antes desprezadas. No Brasil intensificaram-se os investimentos na prospecção do óleo e, ao mesmo tempo, procurou-se aperfeiçoar tecnologia que permitisse uso do álcool como combustível de automóveis.
Como pioneiro na conversão de motores ao consumo de álcool, o principal problema das autoridades foi estimular os ricos usineiros a destinar partes substanciais de suas colheitas à produção do álcool combustível (etanol). Enquanto o governo promovia estudos econômicos para a produção em grande escala, oferecendo tecnologia e até mesmo subsídios às usinas produtoras de açúcar e álcool, as indústrias automobilísticas instaladas no Brasil na época - Volkswagen, Fiat, Ford e General Motors - adaptavam seus motores para receber o etanol. Daí, surgiriam duas versões no mercado: motor a álcool e a gasolina. Veja bem, DUAS versões de motores, versões diferentes porque álcool e gasolina são quimicamente diferentes e, como tal, NÃO PODEM queimar plenamente e, em consequência, fornecer plenamente seu potencial energético no mesmo motor. A engenharia mecânica, considerando que o álcool tem maior poder calórico e que o equilíbrio estequiométrico da gasolina é diferente do álcool, resolveu a adaptação ao álcool aumentando a taxa de compressão, desenvolvendo uma vela de ignição melhor, substituindo o óleo lubrificando por outro de melhor performance, mudando os materiais empregados na confecção de mangueiras, protegendo todas as partes que entram em contato com o novo combustível de forma que este não causasse corrosão. Algumas dessas adaptações podem ser consideradas perfunctórias e não alteram a queima da gasolina, outras melhoram o desempenho, mas a mais importante e irretorquível foi o aumento da taxa de compressão do motor. O etanol exige um taxa maior, sem a qual sua queima é imperfeita e fornece menos potência. Em contrapartida, a gasolina exige uma taxa menor, sem a qual sua queima é imperfeita e fornece menos potência. Um motor bicombustível é, no mínimo, uma máquina desequilibrada que fornece menos potência por litro de combustível queimado e, na pior das projeções, uma trapizonga construída para atender motivos econômicos-políticos inconfessáveis com disfarce de “bom mocismo” preocupado com o meio ambiente. Para lembrar, esses carros não poluem menos que os demais.