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Pesquisas - Nossa primeira pesquisa é sobre o Pau-Brasil. Veja na página Pesquisas e caminhe de mãos dadas com a Terra.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Flor-do-natal de Floripa


Nota: Escrevi este artigo-alerta depois das inundações de 2008 em Santa Catarina. Dezenas de cidades em todo o estado foram atingidas, inclusive, em grandes proporções, sua capital, Florianópolis.


Cattleya guttata ou flor-do-natal 1

Florianópolis - Um pouco de geografia e de história

Imaginem uma cidade situada em uma baía, dentro de uma ilha. Edificada como num anfiteatro a 4 metros acima do nível do mar. Com morros e encostas cobertos por uma vegetação única, predominando flores raras como as orquídeas. Entre estas orquídeas, uma especial, que floresce em dezembro, por isto conhecida como Flor-do-natal! A aromática Cattleya gutata Lindley.

Não, não estamos falando de cidades de filmes românticos. Estamos falando da bela e real Florianópolis. Ou Floripa para os florianopolitanos. Cheia de orquídeas e outras lindas flores e plantas naturais de encostas.

A baía e a ilha têm o mesmo nome de seu estado: Santa Catarina. É ligada ao continente através da Ponte Hercílio Luz. Floripa é dividida em duas partes: a cidade antiga e a cidade nova. Esta é chamada de Praia de Fora.

Foi fundada em 1650, passando para vila em 1726. Em 1823 elevada a cidade.

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Descrevi uma Floripa que existia há algumas décadas. A Cattleya gutata Lindley, que era uma das orquídeas mais comuns, chamada de Flor-do-natal, era encontrada desde o estado da Bahia até Santa Catarina, atualmente sendo encontrada só em alguns poucos estados.

Hoje nossa Florianópolis é assim descrita:

"A situação litorânea e insular do município de Florianópolis propicia uma linha de costa formada por praias de águas calmas, baías, praias de mar aberto, costões, promontórios, mangues, lagunas, restingas e dunas. A ocupação urbana alterou quase que completamente sua pequena parte continental e tem causado impactos ao ambiente natural insular. Contudo, suas encostas íngremes ainda guardam características da Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) e da fauna por ela abrigada, e, nas pequenas ilhas vizinhas pertencentes ao município, ainda são mantidas condições de grande expressão ecológica.
(...........)

"Aspectos Culturais

Os primeiros habitantes da região de Florianópolis foram os índios tupis-guaranis. Praticavam a agricultura, mas tinham na pesca e coleta de moluscos as atividades básicas para sua subsistência.
(......................)

"A cidade, ao entrar no século XX, passou por profundas transformações, sendo que a construção civil foi um dos seus principais suportes econômicos. A implantação das redes básicas de energia elétrica e do sistema de fornecimento de água e captação de esgotos somaram-se à construção da Ponte Governador Hercílio Luz, como marcos do processo de desenvolvimento urbano.
...
Hoje, a área do município, compreendendo a parte continental e a ilha, encampa 436,5 km 2 , com uma população de 369.781 habitantes em 2003 (segundo estimativa do IBGE). Fazem parte do Município de Florianópolis os seguintes distritos: Sede, Barra da Lagoa, Cachoeira do Bom Jesus, Campeche, Canasvieiras, Ingleses do Rio Vermelho, Lagoa da Conceição, Pântano do Sul, Ratones, Ribeirão da Ilha, Santo Antônio de Lisboa e São João do Rio Vermelho."²

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A devastação de matas nativas não aconteceu só em Florianópolis. Aconteceu e continua acontecendo em ritmo cada vez mais acelerado por todo o Brasil e por todo o mundo. Principalmente nas grandes cidades.
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A natureza cobra. É necessário que sejam tomadas medidas urgentes urgentíssimas para desacelerar a tomada de encostas, morros e florestas. É complexo? Sim, mas não mais que se tirar petróleo do pré-sal.
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A Flor-do-natal de Floripa³
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A Flor-do-natal está em ti, Floripa Flor
É nativa de tuas terras
É forte e brava, não teme chuvas nem tempestades
Teme apenas a mão daquele que a destrói
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Destrói essa mão, Floripa Flora,
Recompondo teus rios e tuas matas, bela Flor Floripa
E verás que a Flor-do-natal renascerá em ti
Cobrindo teus túmulos, teu sangue e tua dor
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Porque a Flor-do-natal renasce no Natal
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Renasce preservando teu solo, tua fauna e flora, doce Floripa Flora
Poliniza tuas árvores, fecunda tuas flores
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Porque a Flor-do-natal simplesmente renasce no Natal
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Floripa Flora
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Pólen Floripa
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Florianópolis

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¹ Foto de João de Paiva Neto - Divinópolis-MG - In:
² Dados do site da Prefeitura Municipal de Florianóplis
(Os grifos da citação foram feitos por nós):
³A Flor-do-natal de Floripa é um poema que escrevi, sensibilizada com as proporções do desastre ecológico que aconteceu em 2008, atingindo grande parte da cidade de Florianópolis. Poema e post publicados no blog Multivias - A Natureza em Fotos e Variedades.
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cada um no seu quadrado


Ilustração extraida da internet






No atávico confronto entre as idéias da ciência e os dogmas da religião, com frequência, surge a acusação que os cientistas tiraram Deus das pessoas e não ofereceram nada em troca. As indagações mais racionais que os crentes em uma entidade superior fazem são: Se tudo pode ser explicado pela razão; se tudo pode ser compreendido por mecanismos lógicos de causa e efeito, onde cabem as emoções como nossa capacidade de amar, sentir dor, desespero e solidariedade? A ciência pode fornecer meios que combatam nossas dúvidas existenciais, como a religião o faz? Se não há vida depois da morte, o que a ciência nos oferece? Então, a alma não existindo, o que nos diferencia dos outros animais? Somos apenas um acidente de percurso de uma evolução cega não programada?

Realmente, se encaradas assim sem maiores reflexões, essas perguntas parecem perturbadoras. Se adorarmos a ciência e a colocarmos no altar, ela estará substituindo Deus ou qualquer entidade que represente algo místico que preenche as lacunas onde a ciência não alcança, ou não alcançou ainda. Essa perturbação da ordem, (vamos chamá-la assim) tem dois aspectos relevantes que devemos considerar: Grande maioria, mas grande maioria mesmo, dos homens de ciência acredita numa entidade superior, apenas não mistura suas convicções religiosas com suas pesquisas que adentram os mecanismos que a natureza usa para ser o que é; além disso, nosso cérebro é constituído de dois hemisférios que tem funções distintas, o lado esquerdo desenvolve raciocínio lógico, faz contas e deduções a partir de dados; o lado direito é lírico, emocional e criativo, não está preocupado com resultado da soma dois mais dois, mas gosta de poesia e arte, além de acreditar em coisas místicas.

Assim fica fácil entender que sempre existiu e sempre existirá a dualidade entre querer compreender o que se passa e atribuir o obscuro, o misterioso a algum ente de poderes superiores e não questionáveis. Alguns poucos privilegiados conseguem ser técnicos excelentes e fazer boa poesia, ter sensibilidade para música (meu amigo RRB sabe de quem estou falando) e usar o lado do direito do cérebro tanto quando o esquerdo. Mas nós, bilhões de simples mortais, não temos tal habilidade, portanto, estamos sujeitos a “embolar o meio de campo” e, onde a lógica não nos atender, passamos a bola ao inexplicável da silva a quem damos nome de Deus, ás vezes.

Tenhamos em mente que a ciência é um método de adquirir conhecimento, de descobrir regras e diretivas da natureza, não é um substituto de Deus, não exige veneração nem fé, o que não se coaduna com as teorias e fórmulas não deixa de ser cada vez mais estudado e analisado. Já a religião, desde tempos imemoriais, explora o ignoto e o medo do escuro dos homens, não tenta explicar o inexplicável, apenas gera conforto onde há angústia e traz esperanças aos desesperados. A ciência explica o passível de ser explicado e não se mete na religião, segue paralela às crenças e, quando as confronta, é apenas para aclarar alguma coisa bastante simples, exemplo: o mundo não foi feito em seis dias, não há base que sustente essa proposição.

Não há necessidade de um propósito divino para justificar a busca que ciência faz pelo conhecimento. A ciência sempre será instigante e maravilhosa, e tem a humildade de se saber limitada, incompleta, sempre buscando algo mais, mas nunca supondo que alcançou o zênite. A ciência é mestre em construir modelos que se aplicam à natureza e aumentam o conhecimento que temos dela. A ciência é excepcional em argumentar, fazer perguntas depois tentar respondê-las, nunca se furta a tentar, experimentar e divulgar o que descobriu. A religião faz parte de outro departamento da mesma empresa, não deveria confrontar a ciência, pois estaria “jogando contra” e, desse modo, diminuindo a eficiência da empresa humanidade.

E a alma? E a vida eterna? E as angústias e medos? Ora, esse é o departamento das religiões, e a ciência nada tem a dizer, por enquanto. Como diz aquela música: Cada um no seu quadrado. JAIR, Floripa, 27/08/10.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pica-pau?










Ele apareceu em nosso anjiqueiro. Fazia aquele som típico dos pica-paus. Tentei clicá-lo, mas as folhas da árvore o encobriam. É mesmo um pica-pau?
Uma semana com muitas aves para todos vocês.

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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Caatinga

A caatinga tem uma fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos, em torno de 500 a 700 mm anuais. Em certas regiões do Ceará, por exemplo, embora a média para anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm, pode chegar a apenas 200 mm nos anos secos.
A temperatura se situa entre 24 e 26 graus e varia pouco durante o ano. Além dessas condições climáticas rigorosas, a região das caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a aridez da paisagem nos meses de seca.
As plantas da caatinga possuem adaptações ao clima, tais como folhas transformadas em espinhos, cutículas altamente impermeáveis, caules suculentos etc. Todas essas adaptações lhes conferem um aspecto característico denominado xeromorfismo (do grego xeros, seco, e morphos, forma, aspecto).
Duas adaptações importantes à vida das plantas nas caatingas são a queda das folhas na estação seca e a presença de sistemas de raízes bem desenvolvidos. A perda das folhas é uma adaptação para reduzir a perda de água por transpiração e raízes bem desenvolvidas aumentam a capacidade de obter água do solo.
O mês do período seco é agosto e a temperatura do solo chega a 60ºC. O sol forte acelera a evaporação da água das lagoas e rios que, nos trechos mais estreitos, secam e param de correr. Quando chega o verão, as chuvas encharcam a terra e o verde toma conta da região.
Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a temperatura elevada (médias entre 25oC e 29oC) provoca intensa evaporação. Por isso, somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura se torna possível.
Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semi-desertos e nublados, mas sem chuva. O vento seco e quente não refresca, incomoda. A vegetação adaptou-se ao clima para se proteger. As folhas, por exemplo, são finas, ou inexistentes. Algumas plantas armazenam água, como os cactos, outras se caracterizam por terem raízes praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva.
Os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem nos 800 mil km2 de Caatinga nem sempre podem contar com as chuvas de verão. Quando não chove, o homem do sertão e sua família sofrem muito. Precisam caminhar quilômetros em busca da água dos açudes. A irregularidade climática é um dos fatores que mais interferem na vida do sertanejo.
O homem complicou ainda mais a dura vida no sertão. Fazendas de criação de gado começaram a ocupar o cenário na época do Brasil colônia. Os primeiros a chegar pouco entendiam a fragilidade da Caatinga, cuja aparência árida denuncia uma falsa solidez. Para combater a seca, foram construídos açudes para abastecer de água os homens, seus animais e suas lavouras. Desde o Império, quando essas obras tiveram início, o governo prossegue com o trabalho.
Imagens: Imediações do Rio Paraguaçu - Itaberaba/BA



P1MC – Programa 1Milhão de Cisternas
Iniciado em julho de 2003, o Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: um Milhão de Cisternas Rurais - P1MC vem desencadeando um movimento de articulação e de convivência sustentável com o ecossistema do Semi-Árido, através do fortalecimento da sociedade civil, da mobilização, envolvimento e capacitação das famílias, com uma proposta de educação processual. O objetivo do P1MC é beneficiar cerca de 5 milhões de pessoas em toda região semi-árida, com água potável para beber e cozinha, através das cisternas de placas.
Cada cisterna tem capacidade de armazenar 16 mil litros de água. Essa água é captada das chuvas, através de calhas instaladas nos telhados. Com a cisterna, cada família fica independente, autônoma e com a liberdade de escolher seus próprios gestores públicos, buscar e conhecer outras técnicas de convivência com o Semi-Árido e com mais saúde e mais tempo para cuidar das crianças, dos estudos e da vida, em geral.
A cisterna é construída por pedreiros das próprias localidades, formados e capacitados pelo P1MC e, pelas próprias famílias, que executam os serviços gerais de escavação, aquisição e fornecimento da areia e da água. Os pedreiros são remunerados e a contribuição das famílias nos trabalhos de construção se caracteriza com a contrapartida no processo. Se a água da cisterna for utilizada de forma edequada (para beber, cozinhar e escovar os dentes) dura, aproximadamente, oito meses.
(Texto e imagens)

NÃO DEIXEM DE LER: HÁ VIDA NO SEMI-ÁRIDO

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Pau-brasil: Sementes


Como prometemos, aqui estão algumas fotos do pau-brasil de nossa rua. Ele está na calçada de uma vizinha. São fotos das sementes ainda em fase de maturação. Para quem gostaria de mais informações sobre as sementes do pau-brasil, há uma dissertação de mestrado do curso de Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Botânica de São Paulo, defendida por Igor Ferrari Borges. Está no site http://www.biodiversidade.pgibt.ibot.sp.gov.br/.

O que observamos é que as vagens (onde ficam as sementes), também possuem espinhos, exatamente como o tronco e os galhos do pau-brasil. E quando vazias, ficam retorcidas, como podemos ver através das fotos. Algumas fotos, além da original, estão também com cópias ampliadas para melhor visualização.
  
E você, conseguiu algumas fotos ou observou algum pau-brasil perto de sua casa/bairro/cidade? Estamos lhe aguardando. 









Depois que as sementes caem, as vagens ficam retorcidas.

Dentro das vagens que consegui - retirei da árvore - havia só uma semente em cada uma delas. Vou verificar em outras. As que peguei  no chão estavam vazias.  

sábado, 30 de outubro de 2010

Gralha Azul


Ilustração da internet


Texto publicado no blog: www.jairclopes.blogspot.com em agosto de 2010.

Homenagem à disseminadora de florestas

A gralha azul (Cyanocorax caeruleus) é uma ave da família dos corvídeos extremamente inteligente, chega a ser mais articulada que os psitacídeos, ou seja, ela, se treinada, fala melhor que papagaio, característica que corvos do hemisfério norte também partilham. Na natureza é particularmente barulhenta, um pequeno bando de gralhas equivale a um monte de crianças fazendo algazarra, tanto é que costuma-se chamar de gralha pessoa que muito fala. Tem ampla distribuição geográfica, que ocorre principalmente nas regiões de clima temperado. De médio porte, medindo até 40 cm de comprimento da ponta do bico à ponta da cauda, possui um aspecto robusto e um bico forte. O corpo tem coloração azul metálica, a cabeça, a garganta e o peito são negros, com as penas da fronte arrepiadas. Seu olho é escuro, diferente da gralha comum que tem olhos amarelos. A coloração da plumagem é semelhante tanto na fêmea como no macho. Embora se considere que seu habitat é a floresta de araucárias do sul do Brasil, por força da variada dieta que inclui insetos, frutos, pequenos invertebrados e até lagartixas, esta ave não tem dependência restrita dessas florestas e sua área de distribuição estende-se desde o sul do Estado do Rio de Janeiro para o sul, até o Estado do Rio Grande do Sul, sendo frequente na mata atlântica da serra do mar. Tanto é assim, que as tenho visto aqui no norte da ilha de Santa Catarina em pequenos bandos, vez ou outra.

No livro de leituras da escola primária de minha infância (Grupo Escolar Jesuíno Marcondes) havia um texto que tratava da Gralha Azul. Dizia o conto que a Gralha Azul, ouvindo as machadadas que derrubavam as araucárias das matas em que vivia, tomou-se de dores pelos pinheiros e resolveu plantar seus pinhões para que nunca as árvores fossem extintas. E assim se deu.

Pois é, a verdade é que as Gralhas Azuis, as quais eram abundantes nos pinheirais de minha cidade natal, realmente plantam pinheiros. Os Pinhões, sementes sazonais do pinheiro, são o alimento predileto das gralhas durante os meses de outono. Acontece que a gralha é um pássaro previdente, intuindo que no resto do ano não haverá mais essa saborosa e energética semente, ela enterra os pinhões excedentes, de forma a tê-los disponíveis quando não forem mais encontrados depois da safra. Desses enterramentos alguns são “esquecidos” pelas gralhas e, depois de algum tempo, brotam formando nova muda de araucária. A Gralha Azul é uma disseminadora de pinheiros, sem ela as árvores teriam dificuldade em se propagar, visto que as sementes, pesadas como são, caem apenas à sombra da própria árvore, correndo risco de nunca conseguirem brotar por falta de espaço.

Tenho um amigo de infância, Antonio Passoni, que possui um pequeno sítio no Paraná, e lá pude observar em tempo real as gralhas “plantando” pinheiros. Estávamos no período da safra de pinhões, elas colhiam alguns que caíam e, ao invés de comê-los de imediato, procuravam local onde a terra estivesse macia e os enterravam, vi com meus próprios olhos depois que meu amigo me chamou a atenção para o movimento que elas estavam fazendo. No local, depois que elas se foram, cavamos com as mãos a terra recém revolvida e descobrimos pinhões com a ponta para cima, também ali já brotavam pequenas mudas, resultado de semeaduras anteriores. Foi uma revelação fantástica que ficou gravada nos meus neurônios para sempre, acabara de presenciar o ato crucial que une árvore e ave numa cumplicidade que a natureza alinhavou através de milhões de anos.

A relação araucária – gralha é o que a ciência chama de consórcio, ou seja, dois ou mais seres que se ajudam mutuamente e tiram proveito disso. Assim, a Gralha Azul depende da araucária para se alimentar e a araucária depende da Gralha Azul para proliferar. Não é de admirar que com o quase desaparecimento da planta o pássaro também tenha entrado na lista das espécies ameaçadas. Hoje quase não se vê a Gralha Azul nas matas ombrófilas (florestas de climas chuvosos) de minha terra, o que é de se lamentar.

Pinheiros são lindas espécies de coníferas, família das árvores mais antigas do Planeta, que correm risco de extinguir-se por incúria humana: desmatamento para uso da madeira; desmatamento para dar lugar a plantações de pinus elliotiti, conífera oriunda da Ásia usada principalmente na fabricação de papel; desmatamento para plantação de soja exportada para confecção de ração animal na Europa e EUA; desmatamento para composição de pastagens para o gado. Gralhas Azuis são aves que habitam o Planeta há 50 milhões de anos, que se adaptaram às florestas ombrófilas, estabelecendo consórcio com as araucárias, e, desse modo, perpetuando as produtoras de seu alimento predileto. Homo sapiens é um primata que evoluiu há uns duzentos mil anos e que ocupa o mesmo habitat das araucárias e gralhas há uns doze mil anos, talvez. A associação gralha – araucária estava em perfeito equilíbrio até que surgisse no horizonte a figura do Homo sapiens, depois disso o mundo veio a baixo, ou seja, gralhas e araucárias correm o risco de desaparecerem para sempre. Há alguma coisa essencialmente errada nessa equação.

Trecho de um conto sobre a Gralha Azul que encontrei no saite: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/3contos/gralha.html

Pesadelo: “Revi-me de arma em punho, pronto para fazer fogo. Quando o fiz, iluminou-se o alvo e, aberta as asas brilhantes, o peito a sangrar, veio ele de manso, se achegando a mim. Os pés franzinos evitavam os sapés esparsos pelo chão e o andar esbelto tinha qualquer coisa de divino. Dardejante o seu olhar, estremeci ante aquela figura de ave e deixei cair a arma. Estático já, estarreci ao ouvir os sonoros e compreensíveis sons que aquele delicado bico soltava naturalmente. Dizia a gralha: “És um assassino! Tuas leis não te proíbem matar um homem? E quem faz mais do que um homem não vale pelo menos tanto quanto ele? Eu, como humilde avezinha, entoando a minha tagarelice selvagem como o marinheiro entoa o seu canto de animação na véspera de praticar seus feitos, faço elevar-se toda essa floresta de pinheiros; bordo a beira das matas com o verdor dessas viçosas árvores de ereção perfeita; multiplico, à medida de minhas forças, o madeiro providencial que te serve de teto, que te dá o verde das invernadas, que te engorda o porco, que te locomove dando o nó de pinho para substituir o carvão-de-pedra nas vias férreas. E ignoras como eu opero!... Vem. Acompanha-me ao local onde me interrompeste o trabalho, para aprenderes o meu doce mister. Vês? Ali está a cova que eu fazia e, além, o pinhão já sem cabeça, que eu devia nela depositar com a extremidade mais fina para cima. Tiro-lhe a cabeça porque ela apodrece ao contato da terra e arrasta à podridão o fruto todo, e planto-o de bico para cima a fim de favorecer o broto. Vai. Não sejas mais assassino. Esforça-te, antes, por compartilhar comigo nesta suave labuta.” A gralha desapareceu e eu voltei à razão. Levantei-me a custo e fui ter ao local escavado pelas aves, uma das quais jazia com o peito manchado de sangue, ao lado de um pinhão já sem cabeça. Admirado, verifiquei a certeza da visão: mais adiante cavouquei com as mãos a terra revolvida de fresco e descobri um pinhão com a ponta para cima e sem cabeça. O José Fernandes fez uma pausa e depois concluiu, mal encobrindo a sua alegria: - Aí está, caro Fidêncio, como vim a ser um plantador de pinheiros. Quero valer mais que um homem: quero valer uma gralha azul!”

JAIR, Floripa, 01/08/10.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pequenos e Charmosos Alados

Anum? Estava em nossa gravioleira. Acho que eram dois, mas só consegui clicar esse bonitão aí.
a-




b-
Essas fotos são antigas, já publicadas no Multivias. Ele está em um pé de figo.



c-
Bicudo assim só pode ser um beija-flor, não?

d-

Casal de tesourinhas?
e-
Ele fica todo o tempo cantando: Tsi, tsi, tsi...
f-

Casal de bem-te-vis. Esse topetudo, com certeza deve ser o macho.


g-
Quem conseguir identificá-los ganhará...  na loto!
h-
Esse é um...??? (Preciso aprender muito mais)

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Energia


Ilustração da internet.
Texto publicado no blog: www.jairclopes.blogspot.com em agosto de 2010.

Qual é a marca da civilização? O que define que os povos, as nações, os países, tornaram-se civilizados? Essas questões singelas, de respostas também bastante simples, encerram o que hoje é o maior desafio da humanidade: continuar “civilizada”. Enquanto vagava como caçador-coletor, o homem não era um grande consumidor das energias naturais a seu dispor, abrigava-se em cavernas, choupanas improvisadas, comia carne crua ou assada quando houvesse meios para isso e, na maior parte das vezes, alimentava-se de frutos maduros onde os encontrasse e vestia-se de peles de animais ou vivia nu. Em matéria de consumo de energia o ser humano era minimalista, quase nada exigia do ambiente que o cercava e não desfrutava de uma organização sofisticada que lhe impusesse encontrar meios de obter energia para sua vida simples. Desde que o Homo sapiens agregou-se em comunidades semi fixas onde passou a praticar agricultura e domesticação de animais para sua sobrevivência e conforto, começou o que podemos chamar do ciclo da energia. Essa é a marca da civilização.

Já nos aglomerados familiares, tribais e de clãs iniciais, o homem se viu frente à necessidade de obter energia para seu modus vivendi que, agora, postulava novos níveis de consumo, tratava-se de comunidades com algum nível de sofisticação. O fogo de lenha, inicialmente, atendia os reclamos de cozimento da caça e pesca e a necessidade aquecimento de seus abrigos. Contudo, até pela quantidade de pessoas que conviviam, apareciam novas demandas e, em consequência, artesanato, confecção de utensílios cerâmicos e, mais tarde, fabrico de armas metálicas exigiam novas fontes de calor. O carvão, pela facilidade do uso in natura e pela abundância, foi a escolha compulsória. O carvão foi e ainda é, a fonte de energia não renovável mais utilizada ao longo da história da civilização.

Com o crescimento da população mundial, com a complexidade das novas conquistas tecnológicas, com a demanda cada vez maior por fontes energéticas, o petróleo entrou na dança. No início, o petróleo, depois do refino para se obter um tipo de querosene, era usado para iluminação pública e doméstica, e aquecimento dos lares em aparelhos rudimentares. Com o aparecimento do automóvel, não é necessário dizer, o petróleo tornou-se uma espécie de deus da vida civilizada. Não é estultice afirmar que quase toda estrutura de nossa sociedade dita civilizada está calcada no consumo do petróleo. Ainda que as fontes hidráulicas, as quais nos fornecem energia elétrica e até outras fontes menos expressivas como as usinas atômicas, sejam, também, importantes para o suporte da demanda do Homo sapiens, o petróleo é a prima donna do elenco energético do Planeta.

Pois é, depois de muito tempo de consumo desenfreado, depois que o petróleo se tornou, muito além de sua utilização normal como fonte de energia, um fator político que desencadeia guerras, que constrói e destrói economias, o homem, finalmente se dá conta que ele é não renovável, que ele um dia vai acabar, que usar como se usa o petróleo é uma viagem sem volta. E agora José? Vamos continuar consumindo cegamente esse produto para manter nossos níveis de civilização e deixar a conta para nossos descendentes? Ou vamos repensar o que chamamos de civilização, e retornar a um nível racional de consumo energético de modo a que o próprio Planeta se encarregue de repor o que consumimos? Veja bem, não se trata apenas de descobrir e usar outras fontes, as chamadas fontes de energia alternativa como solar, biomassa, eólica, geotérmica etc. Não é apenas isso. Trata-se de repensar a civilização, trata-se de olhar ao redor e perguntar: Será que para ser feliz eu preciso de tudo isso? Será que apenas um carro por família não é suficiente? Por que devo ter sempre mais? A felicidade é, realmente, ter ao invés de ser? Vale a pena queimar todas as fontes de energia do Planeta para, supostamente, atingir um nível de “civilização” discutível e que não pode ser mantido ad infinitum? Viemos aqui (ao Planeta) apenas para destruí-lo? Somos agentes finais de um ciclo de extinções que, de tempos em tempos, passa nosso Planeta?

Então, a energia que consumimos para manter a civilização é aquela que o Planeta “fabrica” pela transformação do calor que recebe do sol em energia biológica, a qual, depois de outras mudanças químicas surge como lenha, petróleo, carvão etc. A energia geotérmica, embora não relacionada diretamente com a luz solar atual, é um resquício da formação do Planeta e, de certa forma, pela quantidade existente, é virtualmente inesgotável. Mesmo que o homem descubra meios seguros e eficazes de transformá-la em energia aproveitável, deverá durar enquanto o Planeta existir. Portanto, não está em questão esta fonte, ela existe e, certamente, será aproveitada num futuro próximo. A questão é outra, mantidos os níveis atuais de aumento de consumo, não haverá tempo para desenvolver nem encontrar fontes energéticas suficientes antes do colapso da civilização. Estamos numa corrida amoque rumo à extinção exclusivamente por nossa incúria. Não temos consciência que a energia que consumimos e que é a marca de nossa civilização será a marca de nossa extinção também. A única maneira de escaparmos dessa armadilha que armamos será baixar nosso consumo para níveis que tornem viável a reposição do que consumimos. Essa é uma decisão dificílima que traz a extinção da civilização como contrapartida, não há alternativa. Se o homem é o ser inteligente que suspeitamos que seja, está na hora de encarar o desafio. Gaia agradece. JAIR, Floripa, 22/08/10.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Esponjinha








Esponjinha, esponja, manduruvá, quebra-foice (Calliandra brevipes). Família das leguminosas. Arbusto de até 2 metros. Fizemos essas fotos em Goiânia, no Parque Areião*, em abril último. Podemos vê-las em volta do Parque inteiro.

Em outubro de 2008, mostramos fotos de uma outra esponjinha, a Calliandra tweedii. Veja em Via Verde 10: Esponjinha no blog Multivias. Dependendo da região, há variações no tamanho das plantas.
As esponjinhas são muito comuns no Cerrado brasileiro. 

Uma ótima e colorida semana.

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Post feito para o blog Multivias e publicado em 24 de maio deste ano.

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