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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Agricultura inteligente



O bicho homem depois de vagar pelo Planeta dezenas de milhares anos como caçador-coletor; depois de fundar centenas de núcleos populacionais em todos os continentes habitáveis; depois de dominar o fogo, instalou-se, finalmente, como pastor-lavrador nas cercanias de onde hoje é o Oriente Médio. A cerca de onze mil anos, agora fixado à terra, não mais necessitando deslocar-se para onde o clima ou as facilidades de colheitas e caça o levassem, iniciou o período de domesticação de animais e plantas.
Homo sapiens tornou-se exímio agricultor e essa atividade fundou a civilização. Sem a domesticação de plantas que atendessem suas necessidades calóricas, sem agricultura que o fixasse à terra, o homem ainda estaria vagando como um primata errante na vastidão do Planeta, ou já se teria extinguido. A civilização tudo deve à agricultura.
Inquestionavelmente o homem é o campeão agrícola de todas as espécies, contudo, quero falar de uma espécie que levou a agricultura inteligente ao patamar mais elevado. Em um episódio extraordinário da evolução as formigas se tornaram agricultoras a 50 milhões de anos. Até hoje elas continuam a prática com grande sucesso e conseguiram evitar muitos problemas que nós sofremos com as pragas.
Formigas que cultivam fungos podem ser encontradas em muitas florestas tropicais em várias partes do mundo. Em algumas espécies uma casta de formigas grandes, chamadas cortadeiras, sai do formigueiro todos os dias a procura de plantas que atendam suas exigências. Geralmente cortam folhas e as levam ao formigueiro, às vezes carregam até vinte vezes o seu próprio peso, são super formigas. No interior da terra elas passam essas folhas para formigas menores encarregadas de cortar em pedaços menores, bem pequenos mesmo. Depois, outra casta de formigas menores ainda, é encarregada de mastigar os pedacinhos de forma a torná-los uma pasta que, espalhada na plantação de fungos, age como fertilizante. O fungo decompõe a pasta e cresce, e as formigas se alimentam de seus nutrientes.
O fungo que cresce no jardim das cortadeiras de folhas tornou-se totalmente dependente de suas criadoras, tal como acontece com o milho em relação ao homem que não germina a não ser plantado por mãos humanas. Os fungos que vivem livres na natureza se reproduzem emitindo esporos que são carregados pelo vento. Os fungos cultivados pelas formigas perderam a capacidade de se reproduzir. Eles permanecem no formigueiro e só se propagam quando uma jovem rainha carrega porções em suas mandíbulas e vai fundar outra colônia.
Essas lavradoras desfrutam de um enorme benefício ao cuidar de seus fungos. O metabolismo das formigas não tem capacidade de digerir as folhas, a celulose é um impedimento, de modo que o grande potencial alimentar que uma floresta representa perde-se para a maioria delas. As cortadeiras deixam que os fungos carreguem o piano, ou seja, eles digerem a parte mais difícil das plantas e as formigas aproveitam os nutrientes que os fungos produzem. E graças a essa parceria as formigas tornaram-se os insetos mais poderosos dos ecossistemas das florestas tropicais, elas destroem até um quinto das plantas de certas florestas.
Os cientistas estudam essa parceria tentando entender como isso começou e como evoluiu. Como todas as 200 espécies de formigas agricultoras são parentes próximas, os cientistas presumem que a origem dessa prática se deva a um única linhagem a qual “inventou” a agricultura.
Desde 1990, Ulrich Mueller e Ted Schultz têm estudado as formigas cortadeiras de todo o mundo com intuito de estabelecer como formigas e fungos evoluíram juntos. Graças ao trabalho de Mueller, agora se sabe que o trabalho das formigas se parece muito com o dos humanos. Nossos ancestrais no México, China, África e Oriente Médio domesticaram um punhado de plantas e animais, uma minúscula fração das espécies selvagens da Terra, exatamente como as formigas fizeram com os milhares de espécies de fungos existentes das quais domesticaram apenas algumas centenas. À medida que as tribos e aglomerados humanos entravam em contato passavam seus conhecimentos e parte de suas colheitas uns aos outros, como esporos de fungos se disseminando. A diferença ente nós e as formigas é que elas descobriram a agricultura “apenas” 50 milhões de anos antes.
Em comum conosco, elas têm que lutar contra o controle de pragas exatamente como um fazendeiro humano faz. No caso do jardim (acho que pomar talvez seja mais adequado) delas, às vezes entram esporos de fungos parasitas que tendem a matar seus fungos domésticos. Muller descobriu que, tal como os humanos, elas usam um fungicida que só ataca o invasor. Algumas delas possuem sobre a própria pele uma bactéria Streptomyces, que ataca apenas o fungo estranho preservando o cultivado, e que pode desenvolver novas formas de fungicida em resposta a qualquer resistência que o fungo parasita crie. Diferente de nós que, para controlarmos pragas, inventamos inseticidas como o DDT o qual acaba criando organismos resistentes a ele, as formigas coletaram bactérias que evoluem juntas com fungo, na medida que estes criam resistência a bactéria também cria novas toxinas que atacam o fungo evoluído. Em evolução isso se chama “corrida armamentista”, propriedade que têm os seres de evoluírem para se defenderem do predador, e que este tem de desenvolver novas armas de ataque.
De qualquer forma, o que as formigas têm a nos ensinar é que, ao usar um organismo vivo como arma para se defender de seres prejudiciais,elas estão usando uma fórmula ecologicamente correta, formulaque, por isso, tem duas vantagens absolutamente geniais: 1) não agride a natureza, e; 2) não cria resistência no invasor, de forma que sempre surte efeito, contrário a nossos defensivos que acabam sendo aplicados em doses cada vez mais altas e cada vez menos eficientes. A agricultura delas é o que podemos chamar de agricultura inteligente. JAIR, Floripa, 01/09/10
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