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sábado, 20 de agosto de 2011

O gato

Ilustração da internet.


Texto publicado no blogue www.jairclopes.blogspot.com em 22/06/11.


Quando eu era garoto, na minha casa havia vários gatos, minha mãe adorava os bichanos, de forma que eles sempre encontravam abrigo principalmente na cozinha onde um fogão a lenha fornecia o calor que os atraía no inverno. Desde que lembro, nunca mais que quatro, desses vira latas sem quaisquer resquícios de raças, viviam em completa liberdade no quintal e na cozinha da nossa moradia, pequena e aconchegante casa de madeira num bairro pobre de Palmeira. Não eram mimados como gatos de madame, nem eram dependentes de qualquer coisa necessária à sobrevivência. Acho que naquele tempo nem existam essas rações de hoje, quando alimentados comiam restos de nossa própria comida. Viviam na nossa casa, mas não dependiam de nós moradores, tinham muita autonomia e eram safos o suficiente para se alimentarem, namorar e buscar companhia fora de casa. Eram afeiçoados ao lugar, mansos, conviviam em paz com nosso sempre presente cachorro, eram muito higiênicos, - enterravam com cuidado seus dejetos - gostavam de cafuné e atendiam minha mãe que os chamava por nomes como gato, gatinho, gatucho e outros, todos relacionados com a palavra gato.

Durante os invernos rigorosos como soem ser naquele planalto sulino, costumavam dormir ao pé do fogão a lenha, onde, uma vez, um bichano amarelo de nome gato foi atingido por uma brasa que lhe queimou a pelagem e a pele e ficou com uma cicatriz vitalícia. Esse mesmo bichano gostava de caçar roedores e outros animais de pequeno porte nos campos lindeiros donde morávamos. Não raro ele aparecia em nossa sala com um camundongo ou lagartixa viva na boca e, parecia, vinha mostrar como era exímio caçador. Brincava com a presa até cansar e depois a comia sem pejo, era um gato muito esperto. Certa vez apareceu com uma cobra viva na boca, um pequeno ofídio de cor esverdeada que foi objeto de brincadeiras e depois deglutido com aparente prazer.Como os gatos apareciam lá em casa? Não sei, mas desconfio que minha mãe tinha algum jeito especial de atraí-los, talvez ela os visse perdidos pelas proximidades e os chamasse para nosso quintal, onde uns encontravam outros, faziam amizade e iam ficando. Só sei que os gatos não incomodavam os vizinhos, não miavam à noite, não ficavam doentes, nunca tomavam banho, mas aparentavam sempre estar limpos, e, não sei por que, eram todos machos, jamais alguma fêmea transpôs a soleira de nossa porta.

Como escrevi no início, eles eram representantes legítimos de animais SRD (Sem Raça Definida) e, como tal, apresentavam variadas cores. Lembro especialmente de um amarelo, um branco, um mourisco, ou seja, variegado com listras pretas e cinzas, e, o mais estranho de todos: um gato azul, isso mesmo azul! Imaginem, se hoje parece esquisito pensar num gato azul, naquele tempo, 1957, então, nem se fala! Um dia de verão, cheguei da escola ao meio dia e lá estava aquele gato bem novo, bem saudável e bem normal, a não ser pela cor. Perguntei a minha mãe a que devia aquela cor e como ele veio parar lá em casa. Como os gatos iam morar lá em casa era um segredo que minha mãe jamais contara, então não seria agora que ela ia abrir o jogo. Mas, azul? Peguei o bichinho no colo e pude verificar que o pêlo não fora tingido ou pintado, era azulão mesmo! Como era possível? Minha mãe não se abalou, disse que pelo fato de jamais termos visto gatos azuis não significava que eles não existissem. Era um bichano azul e pronto! Realmente, diante desse argumento não houve como discordar, o gato azul se incorporou a gataria doméstica e, depois de algum tempo, não dava nem para reparar que ele era diferente dos demais. O bichano gostava de comer mariposas, essas borboletas noturnas que são atraídas por lâmpadas à noite. Para alcançá-las o bicho costumava subir num armário, ficava em pé e as pegava com as patas dianteiras quando pousavam no teto da cozinha. Ele viveu muitos anos na nossa companhia e tornou-se um dos meus prediletos, era um felino dócil e inteligente. O curioso dessa história é que ninguém, absolutamente ninguém, sejam meus irmãos, vizinhos, parentes ou visitas, jamais se referiu a cor estranha do animal, parecia que só minha mãe e eu conseguíamos enxergar aquela pelagem de coloração anil. Também nós, na presença de outras pessoas, deixávamos de falar na cor do bicho, estávamos cientes que os outros não a notavam.

Como os demais, ao ficar velho e alquebrado, o gato azul passou a ser caseiro e dependente alimentar durante um período, depois, um belo dia, partiu em direção aos campos gerais onde se perdeu e nunca mais foi visto. Todos procediam assim, eram por demais orgulhosos para definhar a vista de nós humanos.

Claro que, considerando o que minha mãe havia dito e o conhecimento parco sobre animais e o total desconhecimento sobre genética que eu tinha, nunca contestei a cor do felino e, tampouco me passou pela cabeça procurar saber o porquê daquela excentricidade. Agora, muitos anos depois, ao ler o livro “O urso azul”, veio-me à lembrança aquele gato e uma certeza de como explicar sua exótica coloração. O livro conta a aventura e a trajetória de vida do americano Lynn Schooler que mora no Alasca onde é guia de expedições científicas e fotográficas da fauna daquele estado. Conta ele que havia avistado de longe um urso azul, animal meio lendário que povoa há muitos anos o imaginário de povos nativos e visitantes daquela inóspita região. Pois bem, em todas as oportunidades, Lynn procede a busca do animal exótico até que o encontra e fotografa de perto (as fotos estão no livro). A explicação para a cor azulada se deve a uma mutação do urso cinzento o qual deu origem a esse raro animal.

Então, minha gente, hoje estou feliz porque finalmente posso entender a origem da cor do meu gato. Provavelmente ele era uma mutação desses gatos cinzas, chamados egípcios se não me engano, e saiu com aquela belíssima pelagem que o tornou o bichano mais bonito da gataria de minha casa. Um gato azulcom origem agora plenamente desvendada! JAIR, Floripa, 22/06/11.

5 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada pela sua visita no E.S2012.
Espero que volte mais vezes. Achei suas matérias excelentes, eu que adoro animais vou estar sempre vindo aqui, penso em fazer faculdade relacionado com zoologia :)
Parabéns pelo blog!
Beijos

JAIRCLOPES disse...

Você sempre será bem vinda a este e ao "Um blog que pensa". E obrigado pelas palavras gentis.

Leonel disse...

É bom desvendar mistérios e dúvidas que tinhamos como garotos!
A minha irmã sempre tinha um gato, teve diversos e todos se davam muito bem com o cachorro, às vezes dormiam em cima dele!
Belo flashback!
Bom domingo, Jair!

Luísa Nogueira disse...

Amo gatos! Sorte a sua de ter convivido com um belo azul! Suas informações, como sempre, são preciosas.
Um bom dia, com ou sem gatos!

JAIRCLOPES disse...

Obrigado Luiza.

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