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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Plantando a Mandioca

Texto publicado no blog www.jairclopes.blogspot.com em abril de 2009.


Foto retirada da internet.

No dia 22 de abril comemora-se o dia da mandioca. Essa fabulosa planta encontrava-se aqui no Patropi quando as caravelas de Cabral chegaram. Na história da ocupação dos continentes pelo homem paleolítico, vários fatores influenciaram na velocidade e delimitação dos deslocamentos, determinando a densidade populacional das tribos nômades que ocupavam uma nova terra. Clima e geografia do terreno eram fatores importantes para que os humanos resolvessem se estabelecer num local, contudo, os fatores fundamentais eram água, animais e plantas comestíveis disponíveis. De nada adiantava haver ótimo clima com terreno favorável se não houvesse o que comer e beber. Desde que as tribos de homens caçadores-coletores, oriundos da África, iniciaram o nomadismo motivados, talvez, pela busca de lugares mais favoráveis à perpetuação da espécie, a história humana é uma reprodução exata da história dos alimentos.
Tão precisa é essa justaposição de histórias que existe até um ramo da ciência chamado etnobotânica que estuda as relações homem/planta em suas diferentes dimensões, que visa resgatar dos grupos humanos o saber quanto aos papéis que as plantas representam para os diferentes ambientes culturais e os significados que os grupos sociais lhes atribuem. Talvez com apenas uma exceção, a Austrália, todos os demais continentes e locais ocupados pelo homem primitivo eram úberes, isto é, possuíam meios abundantes de sobrevivência. Não é por acaso que a civilização humana surgiu primeiro no chamado Crescente Fértil, região da então Mesopotâmia e entorno, hoje Síria, Irã, Iraque, Egito, Jordânia, Israel e parte da Turquia. A Mesopotâmia caracterizava-se, claro, pela abundância de água fornecida pelos rios Tigre e Eufrates e pela existência das primitivas gramíneas que, domesticadas, deram origem ao trigo, ao centeio e a cevada. Provavelmente o Asno é oriundo dessa região, onde foi domesticado contribuindo também para a fixação dos homens primitivos.
As tribos primitivas continuaram se deslocando e fixando-se em todos os continentes habitáveis sempre que as condições fossem benévolas, indícios paleontológicos indicam que há vinte mil anos o homem, depois de ocupar o leste da Ásia, atravessou o estreito de Bhering e adentrou as Américas por onde hoje é o Alasca. Vindo para o sul onde o clima era mais favorável, os primitivos foram se fixando e formando nações em áreas nas quais havia alimento na forma de animais e plantas domesticáveis.
Portanto, não é surpresa alguma que os impérios Inca e Asteca tenham se desenvolvido no Peru e no México, locais onde havia as plantas que deram origem à batata e ao milho. A equação abundância de alimento disponível + água + clima = civilização, se fechava novamente. A leste da cordilheira dos Andes surgiram inúmeras nações, mais uma vez atraídas pela uberdade das terras. Não é a toa que tornou-se célebre a frase de Caminha, “em se plantado tudo dá”. Havia em abundância frutas tropicais, peixes, aves, mamíferos, e, principalmente, mandioca. A mandioca, Manihot esculenta Crantz, é uma planta perene, arbustiva, pertencente à família das Euforbiáceas. Na sua origem a planta é uma falsa trepadeira, falsa porque as verdadeiras possuem gavinhas, coisa que a mandioca não tem. A parte mais importante da planta está sob a terra, os tubérculos. Rica em fécula, utilizada na alimentação humana e animal ou como matéria prima para diversas indústrias. Originária provavelmente do Brasil, a mandioca era cultivada pelos índios, por ocasião da descoberta do país.
No Nordeste, ela é conhecida como macaxeira. No sul, como aipim. Mas tem ainda muitos outros nomes: candinga, castelinha, maniva, mandioca-brava, xagala, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniveira, moogo, mucamba, pão-da-américa, tapioca, pão de pobre, macamba, uaipi e pau de farinha. Mandioca, palavra de origem tupi batiza, com mais freqüência, essa planta da qual somos, orgulhosamente, o maior produtor do mundo, trinta por cento da produção do planeta podem ser postos na nossa conta. Lendo os cronistas que andaram pelo Brasil por diferentes épocas e regiões, percebe-se que as técnicas do plantio da mandioca por eles descritas, sofriam pequenas variações, levando-nos a crer que essa quase uniformidade em tais costumes de lidar com a terra e manejo com as mudas denuncia uma origem comum, tanto das diversas variedades da planta como dos povos que as descobriram.
A mandioca, depois de conhecida dos portugueses, passou a ser considerada por Portugal um elemento de fundamental importância para o desenvolvimento de suas atividades relacionadas não só às conquistas de novas terras, como ao desenvolvimento do tráfico negreiro. Dessa forma, tal importância recaía no valor nutricional desses tubérculos que permitiam alimentar não só os portugueses que iam se fixando nos pontos da costa africana onde eram instaladas feitorias, como também servia de alimentação dos escravos, tanto nos navios como nos diferentes pontos do Brasil, onde eram negociados e levados por seus compradores para diferentes áreas do país. O componente nutricional mais importante do tubérculo da mandioca é a fécula (amido), cujo teor nas raízes frescas varia de 25 a 35%. Dependendo do vegetal de origem, o amido possui uma denominação: Amido (propriamente dito) - Reservado para o de origem de sementes ou grãos como milho, trigo, arroz. Fécula - Quando extraído de raízes, tubérculos e rizoma. Sagu - O verdadeiro sagu é obtido da parte central ou da medula de certas palmeiras. A fécula, amido da mandioca, é mais conhecida como polvilho ou goma, extraído com a decantação da água de lavagem da mandioca ralada. Vários tipos de farinha são obtidos da mandioca, a farinha branca de mesa, puba, tapioca (transformação do polvilho) e outros, além de bolos, caldos e o tucupi, líquido extraído durante a produção da farinha e polvilho, originariamente típicos da culinária indígena. A mandioca também é usada como forragem na alimentação animal, as folhas, ramas e restos de casca ou os desperdícios industriais do processamento da mandioca dão ótima ração. Através de processos de fermentação e ação enzimática, além de outras reações químicas, as indústrias extraem da mandioca vários produtos químicos dentre os quais o principal é o álcool combustível.
Ao contrário dos cereais considerados nobres como o trigo e a cevada, a mandioca não é listada como alimento de importância mundial, no entanto, nós tupiniquins sabemos que sem esse vegetal a história de nosso país provavelmente teria sido muito diferente, e até o anedotário nacional sofreria algum dano, seria mais pobre. Lembrando que a forma cilíndrica do tubérculo torna óbvia sua comparação com o membro masculino, a gaiatice brasileira criou inúmeras anedotas explorando essa conotação. Vejamos uma conhecida piada, que por ser velha não deixou de ser boa: “Você sabe qual a melhor lua para plantar a mandioca?”. A lua-de-mel, é claro! JAIR, Floripa, 21/04/09.

6 comentários:

Zilda Santiago disse...

Já busquei muita mandioca,ou manivas de,para o gado pois aumenta a produção do leite.Só tenho dúvidas qto macaxeira ser a mesma mandioca,mas sou ruim mesmo pra saber com certeza;apesar de morar na zona rural em granja há mais de 30 anos ainda sou mt urbana...rsrsrsrTemos macaxeira plantada pra uso nosso e do gado também.

JAIRCLOPES disse...

Macaxeira é apenas mais nome da mandioca, nome muito usado no nordeste do País. Obrigado pela leitura e comentário Zilda.

Almirante Águia disse...

Jair
Como bom ex agricultor familiar, vim dizer que gosto destes textos que falam sobre as coisas da terra. Aproveito a oportunidade para deixar uns pitacos.

A melhor Fase da Lua para se plantar mandioca ou outras raízes, é na Lua minguante, pode ser plantadas também na Lua nova. Quem acredita segue a regra, porém algumas pessoas plantam em qualquer época, dizem que o resultado bom está em um solo bem preparado. Não discordo totalmente, pois não adianta rezas, mandingas e calendários, sem as condições físico-químicas necessárias ao plantio. Porém gosto de ouvir os mais velhos e seguir as instruções.

Macaxeira, mandioca doce ou aipim, são as mesmas coisas, estas são raízes de mesa, as demais precisam ser processadas para o consumo humano ou animal, são chamadas de mandiocas-bravas. Com qualquer dos tipos se faz a farinha e a extração da fécula.

Prática que já utilizei muito, era plantar os aipins, pelo meio das mandiocas-bravas, para confundir um pouco os espertalhões que gostam de saquear roças alheias.

O Brasil, principalmente nos estados da Bahia e do Paraná, tem recebido muitos africanos para aprenderem sobre esta cultura, hoje já existe a Embrapa instalada no continente africano.

Como já vivi muito da farinha, costumo dizer sempre que pão é ilusão, embora labutar com casa de farinha seja um trabalho de "cão", a farinha é um dos alimentos mais puros e saudáveis que conheço, e as pessoas fazem porque gostam.

JAIRCLOPES disse...

Obrigado Almirante, por complementar com tanta informação extra meu despretensioso texto.

Jairo Cerqueira disse...

Show de bola, Almirante. Um texto Esclarecedor e Enriquecedor.
Um abraço.

Almirante Águia disse...

Jair
As vezes tenho este hábito de me entusiasmar com a leitura do texto e me lançar de vez nos comentários, valeu pela apreciação.

Jairo
Grato pela presença, o texto realmente é muito bom, mas há uma pequena confusão a ser esclarecida, esta publicação é do nosso companheiro Jair Lopes, qual merece todos os céditos.

Grande Abraço

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